Criança, ama com fé e orgulho
A terra em que nasceste
Jamais verás país como este
Blá, blá, blá,
A natureza em permanente festa...
--Olavo Bilac, decoreba obrigatório no primário
Chorava recitando esta poesia ufanista, chorava ao ver Pollyanna com as meninas vestidas com a bandeira americana cantando "America the Beautiful." Gringolândia. Não tem mistério não o lance da bandeira. Há uma em cada esquina, o hino nacional celebra a bandeira. Os versos narram a vitória de um forte ianque contra os casaca vermelha. À beira do mar. Ao nascer do dia
nós ganhamos e a nossa bandeira sobe o mastro. É isso em meio a foguetes, com a terra dos livres e a casa dos bravos. Nossa bandeira é a nossa liberdade.
E sim, digamos juntos: --Foda-se o gambá.
Uma virose tupiniquim me expulsou da pátria amada, salve , salve. Estamos todos gripados. Putisgrila, o Brasil sabe produzir umas gripes inenarráveis. Um piriri de fazer gosto ao Adolph coprófilo nazista feladaputa. E é por isso que estou acordada. Diarréia viral Made in Brazil. E quanta saudade já.
Há pior. La MIgra. Meu marido, francês, residente aqui, que trabalha para o Jet Propulsion Laboratory bolando brinquedinhos espaciais sem fins militares, um nerd, coitado, esqueceu de trazer consigo sua carteira de estrangeiro. Tivemos a falta de sorte de cair nas mãos de um rapazola da MIgra a fim de exercer seu "poder" conosco. Claro que ele sabia quem era o Nicolas, tinha sua ficha completa. Mas é um pulha racista, tirando onda. Um redneck, lourinho de olhos azuis, Nicolas com o cabelo despenteado como um Einstein africano, barbado como --pst! -- pois é. E eu não sou muito branca, fomos a festa do carinha. Redneck são aqueles caras do campo, que cortam o cabelo curto, ficam no sol e o sol bate no pescoço branco água sanitária deles, que fica vermelho, daí redneck, sinônimo de racista feladaputa.
Tanta lenga-lenga que perdemos o avião. Ele sabia e sabia que estou incapacitada. Foi uma porrada bem "Welcome to the Land of Evil." Aquele Emir do Andre Dahmer seria Miss Simpatia. Senti vergonha do meu país. E cólicas. Aqui no LAX fomos na Migra local, eles ficaram horrorizados com nosso caso e nos passaram toda a informação para impalar o sujeitinho. Amanhã começo o "trail of shame", o mesmo fax que a gente vai mandando para todos os congressistas, senadores, etc. etc.
Como mandou bem o Sergio Sampaio:
Eu quero é botar meu bloco na rua...
Bem estilo "Viva o Grande Irmão" temos um novo assassinato em massa para distrair os corações. Welcome to Amerika. (clique)
Paula é uma gracinha de paulistana que encontrei na H.Stern. Mulher velha que nem eu gosta de jóia ( embora ainda use miçangas.) Já dizia a Liz Taylor: --Ah, o Fulano, sim brigávamos, me deixou lembranças lindas... ( tudo jóias...) Paula me fez rir ao dizer que a família Calzone é tradiconal. Família tradicional com menos de 200 anos de Brasil? Só se for de trattorias. Aliás, o pintinho voltou com a Cica, durma-se com um barulho desses.
Ao lado. Cearense
expat flagrado pelo Clive Williams no Maraca, com vários quilos a mais, preocupado com seus fãs.Queria mesmo era torcer para o XV de Arapiraca.Ah, Botafogo, alegria dos pobres.
Volto aos médicos pra ver que raios é essa fraqueza muscular súbita. Meus músculos abdominais doem por causa da tosse e das piadinhas do "Professor das Galáxias". Cada vez mais enxuto e mais cheio de verve. E sua picanha, mmmm, como é boa a picanha do MDSC!
Beijos, saudades, até+!
Escondido em uma tela de laptop wireless, o meu Universo Anárquico espia os biliardários cuidadosamente. Para quê existe o NSA? Para ensinar como espiar a vida alheia impunemente. O Bll Maher, humorista de esquerda, tem todos os dias um mail da constituição pra ver se o NSA se toca. Está lá, quase invisível, meu PowerBook G4, quando de repente adentra pela porta uma figura estroncha, cabelo mal-cortado, roupa de tergal©:
--Vim logo que soube! Como foi acontecer isso com vocês. Droga. Agora o meu caso dos MP3s contra os franceses que compraram a Lucent que comprou Bell Labs, meu caso perde publicidade, droga, droga, droga! Como é que vocês marcaram, vou ver se posso fazer algo. Já instalaram Vista© ? Sabem que sem Vista© no view.
--Aê, tiozão. A gente pode ajudar a melhorar teu visual. Sem Vista©. Ô Sér, chama a coiffeuse aí. É cabeleireira. Sossega que Giiggle paga. -- E volta ao canudinho do seu café do Pete's.
O Vista© sossega o facho. Já se esqueceu da ajuda que ia dar aos rapazes de Mountain View. Está fazendo as contas do corte de cabelo grátis: quanto por ano, por quinquênio, e se adicionar a oferta no Vista© ?
Nisso aparece um supertiozão, com peruca vermelha para justificar seu nome, Red Fall. Só que ele está subindo no mundo dos bilardários. E para surpresa dos presentes tem duas cabeças! Uma sorri para a galera Giiggle, a outra tira o chapéu com a continha de mais de um bilhão de dólares. É que ele é o dono de Viacom, esses carinhas que retiraram um montão de vídeos, mais de 100.000, do YouTube. Ele é também dono da CBS, para quem o pessoal da Giiggle passou uma grana pra acessar programas e tê-los no You Tube.
O pessoal de Mountain View não sabe para onde olhar. Se ao menos estivessem todos em telas de computador, mas ao vivo! Decidem simplesmente um olhar para a cara feia enquanto chamam os advogados milionários da Nova Internet©. Outro se desmancha em sorrisos e chama umas gatas pra animar o velhinho. O Vista© já está animadinho.
Entram os advogados. Galera, é cada Armani© que vocês não fazem idéia. Tudo cheiroso, o programa de espionagem tem olfato caso os suspeitos estejam acendendo ... incenso.
Vista© sobe na mesa e aos berros comanda atenção:
--Nada de processos... Vamos fazer tudo parte de um pacote usando o mesmo sistema de sempre, o MS-DOS. Embutimos tudo no .... VISTA ©!
--Not so fast, engraçadinho. É a voz inconfundível do Steve Jobs, um gato velho com chinelas 43 ( obrigada Suzi Hong) o GURU.
Todo mundo se abestalha de vez. O Jobs não tem nem 1/10 da riqueza dos outros mas é o mais inteligente, mais carismático e mais reconhecido pelas formigas do planeta.
--É tudo aí um bando de otário que merece mulher frígida ou vagabunda.--Continuou Jobs -- O capital tem que estar centralizado como nos blogs do Interney.net/blogs/xyz. Aí só depois é que divide. O Karl explicou isso há séculos. Tenho aqui o meu iContract e é só assinar que minha iSecretary e meu iEconomist gerenciam tudo pra vocês. O Vista© sai com a iFashion para melhorar o visual ( embora eu ache que não tenha jeito) o Red se pica daqui que tu é feio e não tem jeito. E vocês, Giiggles, vamos ter uma conversinha sobre esse boicote do meu Safari.
Todos recolhem a viola no saco. Falou, Steve Jobs. Dá um toque depois das negociações com o Brasil.
O dia em que eu descobri que tinha superpoderesÉ essencial contar minha história antes do dia em que descobri que tinha superpoderes.Tentarei ser sucinto ;sei que sou prolixo. Problema de línguas. Quando pequeno, há mais de um século, vivia com meus oito irmãos na fazenda, perto do canavial e dos animais domésticos: galináceos, bovinos, eqüinos… Mamãe ocupada, de olho nas agregadas e no papai, ou fazendo e criando filhos. Nós, como Candide, vivíamos no melhor possível dos mundos: natureza nos cercando e um desfilar sem fim de preceptoras estrangeiras para nos educar. Encantavam-me as ovelhinhas, com suas tetas rosadas, cheias de leite quentinho. Lembravam-me os seios tenros, rosados, amplos das preceptoras, cujos mamilos também gostaria de … Elas me ensinaram sete línguas, os fundamentos da matemática, esta era uma preceptora feia, russa e comunista. Aprendi noções do direito básico; todos nós éramos advogados; condição sine qua non da família.
Fui para o Rio de Janeiro, onde papai mesmo estava indo para ajudar a re-escrever a primeira constituição da República. Fui ver uns conhecidos na diplomacia. Os exames, ferozes mas passei com louvor. A entrevista foi penosa: cinco diplomatas, me crivando de perguntas e me crivando com os olhos pela minha beleza juvenil… Saí da entrevista já com um posto mas totalmente crivado. Tudo pela pátria amada, idolatrada.
Meu posto diplomático era no Alaska. A diplomacia brasileira achava importante fazer o país mais conhecido alhures. Qual a minha surpresa ao chegar e apresentar meu passaporte diplomático! -- Parlez vous français? –
--Bien sur mais je suis brésilien! Portugais, s’il vous plait!--
Não sei que entenderam os gringos. Caí no Canadá, seguindo flechas de direção duma cabana do consulado russo. É, realmente o português soa para muitos como o russo mas minha missão? Andei o mais rápido possível para a cabana. Meu peito se apertava, meu coração disparava. Prestes a desmaiar, cheguei.
Como se soubesse que eu chegaria um velho de algum lugar da futura União Soviética sorria para mim. Sua barba longa era amarelecida pelo tempo, seus dentes meio podres, seus olhos de um chinês, mal se abriam. Falamos em russo um pouco, eu com um monte de -- “ni znáiu”, “da” e “niet.” O sorriso do velho tinha um quê de maleóvolo. Queria mesmo era dar o fora, eu, mas para onde. De repente, do sussurro em russo o velho, Sr. Minski, passou a falar em inglês e a praguejar contra os estado-unidenses, que tinham passado pra trás os russos na compra do
Alaska. Retruquei mansamente, na voz a mais baixa possível, que o governo dos EUA era assim mesmo, citei as terras mexicanas, as terras francesas e até incluí a ilha de Manhattan. Sr. Minski apertou mais os olhos. Mandou que entrássemos.
A cabana tinha mais frestas que saia de havaiana. Deus, ó Deus, onde estás, bem, o Sr. Minski recomeçou a falar, desta vez em português. Será que ele também foi criado com animais domésticos e preceptoras?
--Olhe, José Rodrigo. A cabana é tosca. A Rússia está para entrar em mais uma guerra. Mas tenho um quarto de hóspedes (de novo aquele sorriso indecifrável.) Lá dorme a minha ursa mascote. Sabes que o urso é o símbolo da Rússia, ou não?
--Mas é claro que sei, mas e as garras e os dentes? Não me estás mandando para a morte? Um aliado seu?
--Para a morte, não. Mando, representante de um país amigo,
futuro berço de socialistas e comunistas que farão guerra aos EUA, e merda no teu país, mando-te para os braços
inesquecíveis de Sachuska. Vá em paz. Tranco a porta por
precaução e para que tenhas mais calor. Até amanhã, José.
Entrei no quarto, acre, mas politesse oblige, não se fala mal do anfitrião. A gigantesca ursa me olhava com olhos redondos, reluzentes, no lusco-fusco do entardecer e se deitou, grunhindo suavemente. Ah, as ovelhinhas. Pertinho da Sachuska eu, o mais perto possível, abraçados. O vento ululava nos céus gelados. Adormeci. De madrugada sonhei com as ovelhinhas e até senti que mamava de suas tetas. Fui mamando, mamando, mamando … Um jato quente me caiu pela goela a dentro. Acordei com aquele gostinho, que não era do leite das ovelhinhas. Ummm. Ah-ha! Sacha é igual a Alexandre. Paguei mico e nem ganhei nada do Itamaraty.
Enraivecido, saí da cabana. À porta, ele. Antes de uns impropérios ditos contra minha educação, ele me desejou boa sorte para todo o resto da minha vida.
Liguei o foda-se pedal; mau humor; fui andando mas sem sentir mais o frio. Olhei para cima; o céu se tingia de várias cores. Havia chegado no Pólo Norte! Aurora Boreal! Olhei para trás, pela primeira vez, desde as palavras do Sr. Minski – Boa sorte para todo o resto da minha vida -- e consegui ver os Grandes Lagos! Pesquei um peixe nas águas glaciais com uma das mãos e
fritei o peixe ao calor da outra. Superpoderes. Sachuska?
Tantos grandes feitos, minha humildade me impede de citá-los. Desde da noite com Sachuska vivo sempre com a mesma idade, 24 anos. Gosto de ensinar sem ser chamado de “professor.” Gosto de línguas. Guardo em segredo meus superpoderes. Tenho saudades das pessoas que se foram mas me adapto bem aos tempos do século XXI. Este poder de adaptação deve ser o maior superpoder que recebi. Irado!
Este conto é dedicado a José Rodrigues Leite e Oiticica, filólogo, poeta parnasiano, professor, anarquista teórico, catedrático do Pedro II, meu tio-avô Cajuza.
Recent Comments