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26-01-2007

Tá bom: sou brega, por Nicolas Rouquette

Tenho a impressão de que a necessidade de afirmar-se "kewl" é diretamente proporcional à pobreza material do indivíduo. Talvez proporcional ao seu status na sociedade. Excluo da hipótese os pobres porque os preços de computadores são tão abusivos no Brasil que acho difícil que leiam blogs. Certamente, o ser "kewl" deve ter uma carência espiritual além da conta. Deve estar no lado esquerdo da reta vetorial que represente a vida. Mais perto da origem que do fim. É sem rancor que afirmo o amor dos jovens pelo choque, só para chocar.

Sei que estou pra lá da metade da minha vida, a menos que me preguem uma peça, desobedeçam meu testamento que estipula que não a prolonguem artificialmente, com tubos para comer e excretar, sei lá. Sempre é melhor gozar o agora, o tal do "carpe diem" com olho no amanhã. E o passado?

O passado é o dilema da minha geração. Os mais velhos aproximam-se dos sessenta anos de idade. Isso era ser muito velho quando éramos jovens. Há os que vivem a suspirar pelos bares, "Ah, os Beatles, ah, os Stones..." Substitua aí qualquer banda ou cantor dos anos sessenta.

Não suporto o canibalismo de culto aos mortos. Não os mortos históricos. Meu primo Hélio Oiticica. Virou o Rei das teses de mestrado e doutorado, agora, quase trinta anos depois de sua morte trágica e solitária. Elis Regina, vamos lá, gente boa que não tira um disco da Elis do depósito sei lá desde quando. Tributos aos 25 anos de morte da Elis para todos os lados. Creio que todos sejam sinceros. Por favor, dêem-me honra ao mérito enquanto esteja viva e esperta o suficiente para ir a uma cerimônia qualquer sem usar babador.

Gosto das minhas lembranças. Sem estagnação. Não digo hoje que Fagner é brega, chato, que não gosto de Fagner. Não é verdade. Gosto muito do Fagner, de vez em quando toco seus discos, de vinil mesmo, vi o show na Bobo Internacional. Chorei. Fagner era o cara nos anos setenta, muito gateenho também. E se vamos falar de túnel do tempo, gosto do Edu Lobo. É ótimo pra chorar. Chorar faz bem, como a chuva em uma poesia da Metamorfose Pensante.
E Chico Buarque de Hollanda é hors concours.
Gosto ainda do "American Idiot" e do Green Day. Pode ter sido coincidência; a partir da segunda eleição com fraude do Idiota, e da excursão do Green Day, parece que houve uma primavera política no país. Existe mobilização. Nem todos nós somos conservadores evangélicos raivosos. O site do John Kerry está no Anarchic Universe, com os dados de quantos nós somos e quanto arrecadamos.

Será que sobrevivo ao linchamento agora? Gosto dos baianos, Caetano e Gil. Caetano diz umas bobagens, mas há que separar a persona musical e poética da pessoa. Mesmo que tenha que fazer um corte de até quando gostei da arte do Caetano, gosto dele e do Ministro da Cultura.

Música, menos clássica, que me dá nos nervos. Qualquer década. Moda e fofoquinha, não quero saber. Sempre usei a roupa que quis. Não suporto papinho da vida de fulano e sicrano. Sou fiel a mim mesma. Viajam comigo todos meus amigos, cascas de si mesmos ou não. Todas as partidas que vi no Maracanã, de Pelé ao Francisco das Chagas Marinho, Geraldo do Flamengo, Gérson e Rivelino. Dos amontoados de poeira no fundo do armário, às brisas no jardim. Viva o Botafogo campeão.
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