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29-05-2008

Uma noite de chuva... Bêbados, por Nicolas Rouquette


THAT cactus....

Faz é tempo. Minha "tchurma" era toda solteira ou mais ou menos assim. Não havia muita mulé; não sei por quê o apelido de clube da aranha. Havia um bando de engenheiros desalmados e um literato. Passávamos por modinhas, como todos os grupelhos cariocas que se prezem. Nesta época a moda era de entender de aguardente. Ainda bem que morávamos perto uns dos outros.
Estou desde ontem tentando lembrar-me das circunstâncias do começo dessa estória. Não consigo. O que sei é que fomos lá pra Aldeia Campista, um adendo simpático da Tijuca, para apanhar uma garrafa de aguardente, o Rubinho e eu. Todos quase eram ___inho. Consequência do tempo que fazia do nosso conhecimento.
O Rubinho tinha quase dois metros de altura, era quieto e meio que parecido com o Frank Zappa. Nunca me cantou mas seu folclore era legendário.
Chegamos na casa dos nossos amigos, tomamos umazinha, era de primeira. Fomos indo, pé na estrada, pois a chuva vinha caindo. No carro, silêncio. Eu, um pouco de olho na estrada, o Rubinho caladão, como sempre. A chuva apertava e nem estávamos no ponto menos dez metros de profundidade da cidade do Rio de Janeiro, a Praça da Bandeira. Aquilo é horrível, com ou sem chuva.
No que íamos chegando à Praça da Bandeira, o Rubinho interrompe seu silêncio e proclama:

-- Nunca provei um cu americano. Taí.


Silêncio estupefato da minha parte. Para ele não faltou oportunidade, passou uns quatro anos no exterior, estudando. Talvez sua altura, consequentemente o tamanho daquilo. Minha mãe sempre dizia que não tinha nada a ver com os berloques de estátuas masculinas greco-romanas.
Fiz-me de surda. Ele repetiu:

-- Taí. Deve ser bom um cuzinho americano.


Gelei. O único disponível era o meu, o qual era virgem até então, passava no teste da farinha e não seria de ninguém. Pensa, Tina, rapidamente.


-- Rubinho, olha o buraco na pista! Cuidado!

Bebum acredita em quase tudo. Rubinho se esqueceu momentaneamente do meu buraco e passou a procurar o da pista na Praça da Bandeira, enxarcada de uns dois metros de altura. Mó chuá-chuá. Quando percebemos estávamos na entrada do túnel Santa Bárbara.  Olhamos novamente. Em Laranjeiras. De novo. Na porta do meu prédio.
Mulher é bicho safado. Com cara de anjinho perguntei:

-- Quer subir pra tomar umazinha?


A essa altura do campeonato, Rubinho tava pra lá da Bagdá, de cachaça, confusão mental e cansaço. Fez que não queria subir, dei-lhe com a porta na cara, não sem antes pipocar-lhe dois beijinhos.

Este cuzinho, meus amigos, escapou de boa. Por via das dúvidas rolei um Lou Reed na vitrola, tomei uma Bloody Mary, fumei mais um Continental e apaguei para o mundo.  No dia seguinte um trocentão de alunos me esperava. Pediam a letra de quê? Isso mesmo.


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