Climatério, por Nicolas Rouquette
Joana acordou no meio da noite. De novo. Suada e só, imaginava que era a hora do lobo, a hora do nascimento e da morte, umas três da manhã. A luz neon do posto de gasolina brilhava para ninguém. Silêncio de grande cidade. Um espocar ao longe que poderia ser de balas no morro ou de escapamento de carros sem manutenção.
Ela era uma mulher sem manutenção. Por mais produzida que fosse sua roupa, mais caros seus sapatos de matar baratas em cantos de paredes, indispensáveis para a mulher só, Joana sentia-se perdida sem homem. Aos quarenta e dois seu marido a havia deixado por duas de vinte. Joana sentia-se sem a vitamina H, essencial para a mulher carente.
Pedro não quis filhos. Agora desfilava por aí com cara de bunda carregando um bebê de uma outra enquanto Joana suava seu climatério no meio da cama sozinha no meio da noite suando sua raiva surda do ex-.
Nenhuma das mulheres do mundo está preparada para o momento em que a espada de Demóstenes as crava para que entrem na maturidade da vida ladeira a baixo. Dada a escolha, preferem a juventude irresponsável, as bebedeiras, o sexo anônimo ou de parceiros desleais sem compromisso. Quando se dão conta, a idade chegou e bateu à porta o fim da fecundidade.
O fim, pensou Joana. O fim. Já amanhecia para os surfistas.
(segue)
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Tomei vergonha na cara, e voltei a postar.
É um conto teu post?
Esperarei o fim para comentar.
E rezo pelo Obama!
Posted by: Guto | 13-02-2008 at 22:35