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23-12-2007

A pequena vendedora de caixas de fósforos- Século XXI, por Nicolas Rouquette


Conto baseado vagamente no conto de H.C. Andersen "A vendedora ambulante de caixas de fósforos"


Nevava muito naquela terça-feira do perído pré-natalino. Para piorar a situação, os meios de transporte de massa estavam em greve. Halimah, nome de guerra de uma nordestina algoana cafuza e bem-feita cujo nome verdadeiro era Jacinta, arrumava as trancinhas de Yasmina, sua filha única. Halimah trabalhava nas ruas, com sua bolsa pesada, que é a arma das mulheres que fazem o trotoir. Preparava sua filha para seu trabalho em frente ao aeroporto de La Guardia, em Queens. Sua filha também era bem ajeitadinha para seus sete anos.

Enquanto Halimah arriscava sua vida nas ruas do Lower Eastside, sua filha vendia caixas de fósforos em frente do aeroporto. Isqueiros são proibidos em vôos que partem dos EUA. Às vêzes Yasmina chegava em casa com cem dólares, dependendo da eficácia do seu charme. O sonho de ambas era de morar na Quinta Avenida, em frente ao Rockefeller Center. Quem sabe a sorte as catapultaria para um programa da NBC ?

Yasmina conseguiu uma carona porque qualquer carro naquele dia sem transporte coletivo era obrigado a ter quatro passageiros. Chegou no La Guardia. Todo mundo mal-humorado por causa da congestão do trânsito nas ruas, da moleza dos seguranças com as bagagens, todo mundo estressado com a obrigação de visitar a família ... Nem com todo charme do mundo a Yasmina conseguiria vender suas caixas de fósforos. E ainda por cima, nessa época do ano os fumantes desejam parar de fumar, parte do ritual de resoluções de fim de ano.

O frio aumentava, o vento e a neve faziam com que Yasmina estivesse com a pele meio roxa de frio. Acendeu um fósforo na área designada a fumantes. Um segurança lhe disse que é proibido fumar. A pequena se desesperava que sua mãe não chegava. Tiritava de frio.

Acendeu mais um fósforo escondidinha. E outro e mais outros.

De repente viu um monte de homens que pareciam robôs de tão duros no porte, com umas molinhas saindo do ouvido.

Cercada por estes homens estava uma mulher negra, certamente rica, sua bolsa Prada® com monogramas CR. Ela era solteira, dentuça, com cabelo alisado, devia ser importante e era. Mas nunca tinha tido filhos e seu petróleo não lhe bastava. Por alguma razão que só o Natal explica, aproximou-se de Yasmina. Depois de inteirar-se de sua situação através dos agentes robóticos, resolveu levar Yasmina consigo e adotá-la. Yasmina entrou na limusine de CR e foi-se para Georgetown. Matriculada na melhor escola de Washington D.C., Yasmina tinha um futuro brilhante à sua frente, recebendo aulas de evangelismo e de educação cívica do Partido Republicano.

Enquanto isso, Halimah, depois de pagar um tempo por descuidar da sua filha nos termos da lei, encontrou um milionário que geralmente só gosta de louras com nádegas de gaveta e nunca tinha encontrado o quê que a Bahia e Alagoas têm. Foi morar em várias coberturas, inclusive uma em frente ao Rockefeller Center. Verdade que esse cara era um chato, mas fazer o quê ? Pelo menos não precisava pentear a carapinha de Yasmina, que com o passar do tempo virou uma vaga lembrança. Passou a freqüentar o jet-set e mudou seu nome mais uma vez, para Blanca. Se não na cor, no nome.

Talvez se tenha arrependido Blanca quando no futuro sua filha se tornou a primeira presidente negra da história dos EUA, comandando o país com mão-de-ferro como sua mãe adotiva sempre havia sonhado. Mudou a constituição e se tornou a Rainha Yasmina.

Publicado previamente no Universo Anárquico BlogSpot em 22/12/06. Lara_nol_04 Obrigada pela atenção. Seu comentário é importante para mim.


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Comments

w1zard

little match girl freezing in the snow, dies in the snow..
but i'm glad that yasmina became queen yasmina. better than dying.

have a nice xmas too..

Thiane

Pra você, um Natal cheio de amor e um 2008 de luz, paz e realizações. Beijos

hazzamanazz

Aqui no Brasil você seria considerada racista com essa história. :s

Sei que a população negra sofreu e sofre bastante discriminação, mas sinceramente, não sei se o futuro que o movimento negro está pregando é saudável.
Afirmação é uma coisa, discutir se Oswald de Andrade tinha traços que comprovassem sua "negritude" me lembram outra coisa.

Sério, lí isso tudo no Estado de S. Paulo a algumas semanas atrás, com o coordenador do Movimento Negro do Estado de SP!!! o.O
Só falta eu ser chamado de ariano.

Ah, o Estados Unidos já tiveram um Imperador, como moeda e selo próprio, não?
Acho que o pessoal iria gostar dessa história, ela é bem legal.

Beijos e Feliz Natal

Moziel T.Monk

E aí, Tina, teva um Natal Branco? Passei pra dar os votos de fim de ano. Beijos e se cuida

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