Manuel Joaquim, um Anônimo na Internet, por Nicolas Rouquette
Manuel Joaquim, de uma aldeia de Portugal, resolveu voltar para casa de tarde, direto da colheita, para umazinha com sua querida Maria. Eis que Manuel Joaquim vê a Maria com seu melhor amigo, o Antôno Francisco, rolando em um montão de feno em uma carroça estacionada bem em frente à sua casa.
O sangue de Manuel Joaquim ardeu-lhe nas veias. Era lusitano e não um desses mouros famigerados que seus antepassados expulsaram da terra lusa. não iria chicotear sua Maria --sua? -- ou colocá-la entre grades. Não, passar-se um atestado de corno não era a solução.
Manuel Joaquim foi consultar um amigo letrado, que até monóculo usava. O Fernando Lopes e Souza disse-lhe que a solução era simples. Era só difamar a Maria em uma carta anônima no jornal local.
--Antônima? perguntou o Manuel Joaquim. (parecia palavra de escola.)
--Não , meu caro Manuel Joaquim. A-nô-ni-ma. Tu escreves uma carta que fale mal da tua Maria e não assinas teu nome. Assinas "Anônimo". Envias a carta ao jornal. Contarás detalhes escabrosos, sexuais, que o jornal publica. Quanto mais sexo melhor. A humanidade é podre, meu caro. Agora devo retornar aos meus livros, algo mais? Precisaria de alguns escudos para meu vinho noturno, tens algum dinheiro?
Manuel Joaquim enfiou a mão esquerda no bolso, meio que a contragosto. Puxou umas notas cuidadosamente dobradas, desdobrou-as, contou-as e separou um montante para seu amigo letrado.
Foi para sua casa, já no final do dia. Cabisbaixo, disse que Maria o deixasse só. Que saísse, ora. Uma vez só, tirou seu lápis e uma folha do bloco de contas da casa e começou sua carta anônima ao jornal.
Prezados Senhores:
Tenho o grave dever de informar-lhes, anônimo, que minha mulher é uma rampeira, uma rapariga sem escrúpulos. Minha mulher me trai com o meu melhor amigo, bem em frente da minha casa, à Rua Que Sobe e Desce, número 41. Eis que Maria do Manuel Joaquim dorme com outro, sufoca o gajo com o calor de seus beijos. Vi os corpos entrelaçados em frente da nossa casa, esta tarde. Maria do Manuel Joaquim não deve fazer parte do nosso povoado.
Corro grave perigo de vida. Tenho que contar o que minha esposa faz enquanto trabalho.
Atenciosamente,
Anônimo
No dia seguinte à publicação da carta "anônima" Manuel Joaquim levou um tiro anônimo. Foi enterrado em cova rasa, com ligeiras lágrimas furtivas em um lencinho de sua Maria, amparada pelo anônimo amante, o Antônio Francisco. Dizem as más línguas que o Fernando Lopes e Souza serviu de testemunha para as novas bodas de Maria.
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