Os Mutantes : Mande um abraço pra velha- Zefa, por Nicolas Rouquette
Mande um abraço pra velha, diga pr'ela se tratar. Foi a última apresentação d'Os Mutantes que vi no Maranãzinho. Foi o ano de-cisão. De cuca e corpo, de casa e família, da banda, da música que não deu lá muito certo mesmo que fiel ao espírito do ano de 1972.
Minha mãe, prima do pai do Hélio Oiticica, a Zefa, tinha uma raiva danada dos meus amigos de desde 1964. Quando fomos pras Laranjeiras,em 1964, para o Elefante, não tínhamos nada, nemmerdanocuqueperiquitomerende. Expressão que levei décadas para entender fonologicamente. Semanticamente: pobrões.
Minha vitrola era uma dessas iguais à do Claudio Vianna: "portátil" enorme, uma grande mala azul clara que estacionei na casa dos tios da Jô, na Lagoa. A Lagoa era bucólica, os ônibus eram tróleis elétricos.
Meu pai dizia que os Beatles não durariam dez anos. Fumava seus cigarros um atrás do outro, tiririca com as novidades. Uma turma de beatlemaníacos ... com rapazes. Ele, o Zaharis, que é doce em grego, diabético, conservador, fazia mimetismo de seu pai, um ex-jardineiro do Rei da Grécia, ignorante e racista, que ao menos acreditou em educação de imersão greco-bilíngüe nos anos da Grande Recessão.
Daddy virou católico para casar com Zefa, filha de Maria, que decorou a música do Pato da Arca de Noé recentemente para sua sobrinha moreninha. Com seu Alzheimer vive na espera de minha irmã e filha. Visito seu quarto. Desconfio que detonou minhas fotos Kodachrome® e até minha maquininha Kodak Instantamatic.
Laranjeiras, sem praia, é quase Zona Norte para a Zona Sul na orla. Tijuca e Grajaú eram reduto das vassouras do Jânio Quadros, a Tijuca do I.E. e C.M. e escolas particulares mais o ai-jesus do Lacerda, o Colégio de Aplicação, em 1963 com música ambiental para estimular o cérebro. Tudo na linha do bonde. Zona Norte sem trem.
Da Zona Sul Santa Pústula esqueço. 1968.
Passei meu cabelo a ferro, ia de touca cheia de grampos para a escola. Salvou-me a Leila Diniz. Danou-se tudo em 1970. "Let it all hang down," (click no "Higher" do Video -Google)cantou Sly (and the Family Stone.) Não tinha drogas - era o Rumilar e fui ver e viver o Woodstock no telão do cinema Roxy .
Não, Gabriela Z. ser louco não é opção. Em 1970 veio o palavrão, sartou o sutiã, o cabelo virou poinhoinhoim. A loucura o vício a compulsão é tudo genética e neurotransmissores. Sem tratamento o louco fossiliza.
Os neurotransmissores de Alagoas são meio que
"O som e a fúria". Os quatro irmãos: Benji, o idiota narrador *spoiler*, Quentin,
que se joga de uma ponte no dia de Corpus Christi, Caddy, a irmã vadia
objeto do desejo que foge de tudo, Miss Quentin a filha bastardagostosinha do
tio e o irmão cúpido, que tudo quer e nada compreende, o tadinho de
mim, Jason, que se lamenta com a negra.
O livro foi retraduzido. Sem conhecimento da Bíblia, forget it. O sul é carolices, Praise the Lord-Amen!, já me explicou meu filhote, educado aqui.*end of spoiler*
Zefa até hoje exorcisa o "abraço" que lhe mandei em 1972. Alguns da Tchurma encaretaram legal. Outros evitam o contágio com a loucura. O Trabalho.
Alagoas são quarenta famílias de Belíndia. Falei e disse e assino embaixo. O Lombaxomba tem uns posts da terrinha. Visitem este estado desproporcionalmente representado na História Nacional. Impunidade é lei da terra. Somos todos primos. Frutos de cupidez pela cana, atavismos, drogas, sexo e côco, a música folclórica de Alagoas. Analfas.
Havia uma vez Alagoas. Houve Os Mutantes e hoje há Mutantes vivos,que bom! e o som LIVE da minha juventude pós-transviados, pós-geração Payssandu, um, dois, três, gravando: Sérgio Dias, Dinho, músicas novas e voilà! Os Mutantes 2008.
cogito ergo sum. Agora, Gabriela, o chá. Os estudos, seja nerrrrd! gabriela z. Farinha pouca meu pirão primeiro. Manda um abraço pra Zefa, a velha prima da Sônia, avó da Ariane e da Dulce, a "tia loura" do Hélio, que teria quase 70 anos. A instalação "Tropicália" foi para o Tate Gallery, em Londres, assim como a volta d'Os Mutantes foi ano passado em Londres, no espaço Barbican.
Voltou tudo. Até Beatles. Sim, o chá. Melhor não. Acabou-se o que era doce, quem comeu que regalou-se.
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Tina, nada para falar. Estou lendo seu post , e na minha cabeça, muitas, muitas lembranças.
Eu estava lá, no Rio.
santa ùrsula,escola das minhas primas.
Pça General Osório, meu quartel general. naquela época meu pai tinha dinheiro. Gerente do BB era alto funcionario...
eu comprava calça jeans no "Lixo", e gritava palavras de ordem. fui pro Chile, antes de ficar maluca pela primeira vez e ser dominada pelos hospitais da época!
bjos. emocionei
Posted by: marilia | 03-10-2007 at 05:19
Tina, não me fale em Laranjeiras. Saca o banzo? Pois é. Foi onde nasci. Os mutantes já eram há muito, e quando voltaram, não pude deixar de sentir que tinha qualquer coisa de artificial... Sei lá, é assunto que vai além da minha vida.
Posted by: osrevni | 03-10-2007 at 18:04
Fluxo de pensamentos :D
Estudar é divertido. O dia que eu não tiver o que estudar, vai ser tudo mto sem graça :P
Os jovens de outros tempos parecem tão mais.. ativos. Eles (vocês) lutavam por uma causa, seguiam os passos de uma banda, torciam para um time...
Hoje em dia tudo parece tão efêmero e fragmentado. (a juventude está perdida?).
Posted by: Gabriela | 03-10-2007 at 19:07
Olá, Tina!
Cá estou!!...realmente é uma viagem seu post....viajei pelo Rio da minha época...bem depois disso aí, inclusive nasci em 64...em julho...já falamos disso, quando chegou minha ´peoca acho que voce morava em Niteroi, é isso?
...Pois é mas o tempo passa e as coisas retornam, ao menso na nossa mente.
Por falar em Oiticicas, os daqui tem até em Outdoor...vi essa seman lá na Barra de Saõ Miguel...~eta, Alagoas!!!!...um dia a gente come sururu juntos...eu com a camisa do Fluzão, claro!!
Um beijo
Posted by: Sergio | 08-10-2007 at 07:32