Damos um passo à frente - desastres, por Nicolas Rouquette
Para quem quer saber da minha saúde, vai assim-assim. Mesmo dentro da bolha, tenho uma tossezinha seca devido às cinzas que circulam tal neve de mentirinha. Vi essa neve rara uma vez, quando houve os saques e quebra-quebras em Los Angeles, no tumulto resultante do julgamento dos policiais que atacaram o Rodney King. A nevezinha chegou até Santa Monica, a 30 km do centrão du bão onde também morei, pertinho do MacArthur Park e da U.S.C.
Outra vez que vi essa neve mágica foi em filme, desculpem-me os fracos do coração -- em "Shindler's List", desta vez decorrente das micro-cinzas de vítimas da segunda guerra em seus crematórios. Ontem estava igual. A casa está imunda. Fechada mas imunda. É o cachorro que entra e sai.
Enquanto a maioria dos jornais ainda explora o drama dos 500.000 retirantes californianos e das chamas do nosso inferno, sim a palavra existe em inglês, neste sentido de tempestade de chamas, há fotos do inferno, que chique. O Los Angeles Times parte para a pior parte: o drama ecônomico de um estado que seria uma das dez potências do mundo se tivesse água e força de bombeiros aérea. Estamos nós preocupados com o valor imobiliário das nossas casas-cofrinhos que nos propiciam a grana para tetos solares, educação, tratamentos médicos, nossos gansos dos ovos de ouro estão a perigo.
Sentiram o drama da California? Que acham?
Morro de calor dentro de casa porque o ar fora de casa
está irrespirável. Usamos aquele belo método -- o ventilador, que faz
circular o ar quente. Para quê sobrecarregar a rede elétrica quando o
estado é de calamidade pública? Já declararam calamidade pública aí no
Rio de Janeiro, onde as enchentes não páram? Ah, tenho minhas fontes
também. Que acham vocês aí na terrinha amada, salve-salve? E no mundo
lusófono?
Aqui ao lado da autopista, no ghetto onde vivo, ouço os carros de bombeiros. Os incêndios afetaram cinco
condados: Los Angeles, San Bernadino, Riverside, Orange County
(redundância necessária) e San Diego. Em todas as direções e o que nos
resta são cinzas, problemas com seguros: saúde, casa própria, valor de
hipoteca; somos materialistas, imperialistas.
Sou anta jurássica no meio da informação eletrônica. Nossa capa de hoje do Los Angeles Times mostra as cinzas e o cinza das nossas perspectivas econômicas. Hillary nem precisa vir até aqui. Já vem toda a galera do Grand Ole Party, o partido republicano, G.O.P. -- na quinta. Espero sinceramente que não repitam a gafe de um político brasileiro: citações variam de Pinochet a políticos a futebolistas -- Estamos à beira do abismo e damos um passo à frente (sic.) Na minha bíblia de inspiração da língua portuguesa leio que já nos idos dos anos 60 uma psicóloga em TV culparia a piscina e não o jovem por este ter angústia de não saber nadar. (Nelson Rodrigues, À sombra das chuteiras imortais.) Segundo o Nélson Rodrigues, jovem sem angústia é doente e deve ser amarrado ao pé de uma mesa. É perigoso. Nesta nota me despeço confiante na saúde do aborrecente enchilicadinho, confiante na saúde da família onde o homem da casa bebe coca-cola, aguardando o futuro em que esta geração de jovens adultos, como o Inagaki e Marmota também pedirá coca-cola com seus sanduíches, pizzas, e fedelhos à volta. Obrigada a j.noronha pelas imagens lingüísticas da família chata de hoje, obrigada a vocês, até mais tarde.
Sem pena, direto do meu MacBookPro, com link móvel do L.A. Times, hoje, 24 de outubro de 2007, Tina Oiticica Harris diz até +!
Abaixo: Saiu para cortar lã e voltou tosquiado.
fotos pós-tosquia à tarde.
Sphere: Related Content
E toda esta cinza no ar deve ser ruim pra ti, dado o estado de saúde em que tu está =/
Posted by: marcus | 24-10-2007 at 13:07
marcus:
O estado do ar é péssimo para todos. Agora está um céu cinza e calor que me lembram inversão térmica? Algum fenômeno atmosférico que já vi mas não sei onde. Dentro de casa está fresco. As crianças estão proibidas de ir ao recreio e almoço fora das salas de aula.
Mó ruim foi descobrir que além de inglês tech bóio solene no inglês de pagamento de contas. Há uma fila quilométrica de correio para abrir e compreender.
Ainda volto para visitar outros blogs. Obrigada pela visita, meu del.icio.us está em vias de solucionática, para casar com o tom populista do teu comentário. Amei.
Posted by: tina oiticica harris | 24-10-2007 at 14:06