A saúde dos que cuidam de outros na família, por Nicolas Rouquette
Bom dia ou boa tarde. Post # 1 de hoje. Minha geração é a "geração sanduíche" uma fatia fina de queijo magro (olha o colesterol) entre polpudos nacos de pão nosso de cada dia, nossos velhos e nossos filhos, estes da geração canguru, estudo brilhante de Regina Célia Henriques, a Ginda da minha poesia, por aí. Sua tese está indo para a cidade-luz; merde pour toi!
(Em 2004, seu aniversário bissexto, entrega do Oscar. Levantou-se e desmaiou nos braços fortes do Maridão.)
Alzheimer, o apóstrofo tornou-se facultativo, acomete mais cedo ou mais tarde a todos. Vivemos mais, mais ficaremos gagás. Mommy sempre contava a estória de uma Oiticica na fazenda, passando cocô no cabelo, sob protestos da escrava.
--Isso é banha! É banha para o cabelo brilhar.
Emendava dizendo que se ficasse assim queria ir embora. Só que o papa é contra. Um homem acordou depois de 19 anos de coma em um país da ex-Cortina de Ferro. Quase pirou com celulares e muvuca na rua.
Mommy veio aqui piradinha mas ativa. Um dia saiu de ônibus foi até a pqp e a polícia a trouxe de volta. Até 2003 o único senão era sua implicância comigo, a mania eterna de me criticar na presença de visitas. Era desagradável. Aos poucos deixamos de ter visitas. Não gostava de ninguém. Em agosto o câncer de mama invisível. Foi indo ladeira a baixo. Sem queixumes. Imperiosa. Fazia cenas para vir à mesa. A gente não percebe a piorada lenta e gradual porém segura. Depois de sua queda no seu quarto este outubro passado, foi internada na casa de convalescência. Ao mesmo tempo que a casa tornou-se espaçosa devido à sua personalidade altamente espaçosa, a casa é mais triste, vazia, silenciosa. A bagunça é só do Gabi.
Não consigo lidar com o fim inexorável de nossas cascas. Aí li esse artigo sobre a saúde dos que cuidam dos seus seres amados. Nós sofremos de depressão crônica. Negligenciamos nossa própria saúde. Somos invisíveis para o governo e assistência à saúde. Alimentamo-nos mal, trabalhamos mal, temos estresse e pressões auto-impostas para performance impecável. Lutamos uma batalha perdida.
Não vou citar os números e instituições de pesquisa no artigo da Melissa Hailey
porque acho que não precisa. É link de segunda para terça. Foi uma revelação para mim. A perda de Mommy, mesmo que nesse long good-bye, é triste demais. A gente sempre guarda uma onipotência infantil que dá de cara na morte inexorável, no fim, só restam as lembranças.
Ao menos muitas lembranças. Com vocês, In My Life, the Beatles, cortesia YouTube
Abaixo, mais uma aventura divertida da professora particular Yuna.
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caramba tina, me senti tão proxima, que fiquei constrangida. estou vivendo uma situação de perda lenta do meu pai, uma pessoa unica, alvarenga de primeira, 85 anos, que até alguns meses atrás (4) nadava diariamente 400 metros na piscina olimpica do minas tenis, jogava seu poquerzinho, peteca, e ainda falava uma boa dose de bobagens por dia.
Não é sindrome infantil, é saudades...e pelo jeito, saudades gostosas... da sua mommy...
abraços solidários...
ah, parlez vous français???
allors, bisous
Posted by: marilia | 14-06-2007 at 11:51