Foi um rio que passou na minha vida, por Nicolas Rouquette
Em 1970, talvez um pouco antes, mudou-se para nosso nobre edifício, nosso andar, um casal mulato. Ele subia e descia no elevador conosco, quieto, carregava uma pasta, sempre. Mesmo no Rio de Janeiro pessoas "de cor" não tinham acesso à classe média tão fácil assim. Ele e ela foram os primeiros negros que viveram no Edifício Elefante. O edifício tinha sido construído pelos Guinle, mármore e granito para tudo que é lado. Art déco, tradiconal.
Pensei que era engenheiro. Tinha que ser profissional liberal. Elegante, bonito, quieto, carregando pasta de couro. Engenheiro, claro.
Um belo dia veio a maior zoeira no andar. Era do apê dele. Samba! Ao vivo.
Vimos nosso vizinho cantando na TV. Ganhou o festival. "Foi um rio que passou na minha vida." Um sucesso que o levou para outras paradas.
Não sou portelense. Minha escola é Acadêmicos do Salgueiro. Paulinho da Viola fez minha cabeça. Sua voz é linda, raro na música de compositores, ele é um "pão"; dizem que ainda dá pra uma noite chuvosa. Acabei de encontrar um iTunes dele. Estava com saudades há tempos. Meus LPs estão churreados.
Neste ano de 1970 ele foi jurado do FIC. Minha irmã também. A gente se cruzava na Rua do Catete, ele acenava. Sempre quieto, simpático.
Não compreendo muito bem o que vejo na Net: preconceito racial e preconceito contra samba e futebol. O Brasil sem estes três elementos, os negros, mesclados ou retintos; o samba e o futebol é o quê ?
Quem achar que vale a pena ouvi-lo, dê uma olhadinha aqui
Este foi o meu vizinho:
Quem quiser vê-lo cantar "Foi um rio..." em pagode com Nelson Sargento e outros medalhões do samba; ver o povo cantando também, veja aqui
Cartas para a redação ;P))
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Paulinho da Viola é ótimo. Tina, já ouvistes a sambista Teresa Cristina cantando as músicas dele? É ótimo. Recomendo enfaticamente. Ela gravou dois discos só com músicas do Paulinho.
Posted by: Moziel T.monk | 09-05-2007 at 06:52