Distopias futuristas; distopias atuais, por Nicolas Rouquette
Talvez deva definir distopia. Vou fazer um Google Search. Não falha. geralmente usamos distopia em ficção científica futurista onde tudo vai mal. É o contrário da utopia, aquele lugar maravilhoso. São uma dobradinha: utopia/distopia; sonho/pesadelo.
Parece que vários autores receberam santo em suas visões de um futuro distópico. Aldous Huxley em "Admirável Mundo Novo" criou uma distopia onde o sexo era proibido, os bebês geneticamente programados para cada função societal: garis, gerentes, seres pensantes. Começa a dar bode quando um Alfa dá uma piradinha. Ele é fruto do sexo com uma foragida desta sociedade. Li aos dezesseis anos, escrevi um belo texto que entreguei para Gracinha M. lá no Santa Pústula. Ela o perdeu. Duas lições: nunca entregamos um texto original para ninguém. A outra lição foi a traulitada que o livro me deu.
Em "1984", do George Orwell, há uma guerra que ninguém vê e a presença do Grande Irmão espionando a vida dos cidadãos. Vi uma versão em filme; tive pena do Winston. Li o livro bem mais tarde. Esta distopia é estado presente nos EUA. Por essas e outras não ligo a TV. Nunca. Só para futebol Bobal, SNL, e Bill Maher, esquerdóide. A sacação do Orwell foi demaish. Seu estilo literário é pobre. Passo. O livro sobre os porquinhos é bobão. Passo.
Ray Bradbury, autor de "Fahrenheit 451", a temperatura na qual o papel se reduz a cinzas, é um poeta. O livro saiu de um conto, "O Pedestre.(versão integral aqui.) Li aos treze anos. Conversamos com Ray Bradbury em 2004. Ele diz que só este livro é uma ficção científica. Era muito acessível, dizia que o segredo de escrever é escrever diariamente. Ele nem leu sobre SEO ;P)) Há uns dois anos faleceu sua esposa e ele sumiu. É prata da casa, veo lá de Illinois para o vale de San Francisco. Nunca freqüentou escolas, desenhava e lia livros em bibliotecas públicas enquanto sua família ia de lugar em lugar por causa da Grande Depressão.
Em "Fahrenheit 451", cuja versão para o cinema conserva o lirismo do Ray Bradbury, a distopia no futuro queima livros. A palavra escrita não existe, só figurinhas. O trabalho dos bombeiros é buscar e queimar livros. As telonas de TV interagem com as pessoas. Quem não tem TV é acusado de tendências retrógradas e levado embora. Ninguém anda na rua a luz proveniente das casas é azulada. Um bombeiro se apaixona por outra mulher e começa a ler. Sua esposa o denuncia. Ele foge para a floresta, onde pessoas memorizam livros para o futuro utópico. Lembrei-me deste livro e filme quando vi a fogueira dos livros do cara que escreveu sobre a vida do Roberto Carlos. Queima de livros é traumático. Vi a foto n'O Biscoito Fino e a Massa.
O escritor Phillip K. Dick é o queridinho de Hollywood. Blade Runner, Total Recall, Minority Report, todos foram escritos pelo mestre da paranóia; quê é realidade, quê é ilusão? A realidade é distópica, violenta, assassina. Ele é o autor mais filmado aqui, perdendo somente para o Stephen King. A Ovelha Elétrica tem um arquivo dele na margem esquerda. A Rapadura do Eudes deve ter HQs no fórum.
Não poderia fechar meu post sem um parágrafo sobre o criador do Cyberpunk, em Neuromancer, William Gibson. Aí já não é mais minha praia. Está embutido um link para o site do William Gibson. Ahhh! The Matrix.
Qual o ponto dessa viagem? Em primeiro lugar, ao ler sobre todos esses escritores fantásticos, além da visão :medo: lêem ou líam muito. Vários vêem a TV como a máquina de fazer doido, já dizia o Stanislau Ponte Preta, antes da TV Bobo virar Rede Bobo. A TV e a imprensa de distopias como a Gringolândia alimentam a paranóia do povo. É sempre desgraça e ELES. Sejam eles os mexicanos, os negros e agora os muçulmanos. A violência é gratuita na TV, em filmes e em joguinhos grátis viciantes na Net. Não há nada de graça. Estava lendo o Paulo Osrevni, seu post é "Eu pulo, você pula também." Está no "Para ler sem olhar.blogspot." Já li sobre meninas que passam uma corda no pescoço uma segura e a outra goza. De vez em quando dá em morte. Oops! O Billy Budd é o único que não tem ereção quando enforcado. Está aqui no blog o conto do Mellville. Sabendo buscar, não vai deixar de ler.
Em um mundo distópico oscilam valores morais histérico-religiosos/intolerantes com descrença total: o suicídio, anorexia, bulímia, práticas como a que Osrevni descreveu, são freqüentes. Descrentes sem opção filosófica. Tédio. A linha entre fantasia e realidade deixa de existir, o futuro chegou. Nada mais importa, disse o Metallica. Participei dos comentários do blog O Biscoito Fino e a Massa quando Cho morreu e matou um monte de gente. Ele não é um fenômeno dos EUA. O imperialismo é mundial, distrai a galerinha, explora os pais e suga nossos recursos.
Não tenho nada mais a dizer. Mundoidão, diz sempre o Marmota nos tags do delicious.
Quando faço buscas uso Google.com, Google.fr , Google.pt, Google.com.br. Estão combinados. Um deles tem que me dar um resultado. Vão lendo aos pouquinhos.
Boa tarde-noite, Brasil! Boa noite, Portugal!
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Nunca vi você tratando tanto de literatura num só post, e por isso adorei. Concordo inteiramente com você no que toca a Orwell; gosto muito do 1984, que li duas vezes e cuja adaptação para filme eu ainda não vi, talvez felizmente. Do Gibson tenho os essenciais: Neuromancer, que achei bastante tedioso, e Pattern Recognition, que é bom, cool, etc. Huxley: gosto mais do A Ilha, e não consegui ler O Céu e o Inferno.
Um abração, mademoiselle.
Posted by: Ed | 28-05-2007 at 14:34
A idéia de um mundo distópico faz a gente se sentir um pouquinho melhor com a realidade que temos.
A tevê aliena as pessoas. É praticamente um Big Brother, porque estimula as experiências rápidas, a transmissão instantânea e os pensamentos efêmeros. Não conhecia a história de Fahrenheit, vou procurar saber mais. Um mundo sem livros não teria a mínima graça :T
Posted by: Gabriela | 28-05-2007 at 19:46
Um dos textos distópicos mais assustadores que eu li não é ficção e foi escrito por Bill Joy na Wired: Why the Future Doesn't Need Us". Não sei hoje (nunca mais reli), mas na época me fez pensar bastante. Bill Joy é engenheiro da Sun e um dos criadores da linguagem Java e o artigo fala das ameaças do avanço da tecnologia. Parece uma paranóia ludita. Será?
Eu não conhecia seu blog. Cheguei aqui através do Inagaki e encontrei um post exatamente sobre um dos meus temas preferidos.
Eu adoro Philip K. Dick. Pena que a maior parte das adaptações para o cinema dos seus livros, com raras exceções, são tão ruins. Eu escrevi uma resenha há uns 3 anos sobre um livro de Philip K. Dick que com certeza deve ter influenciado o filme O Show de Truman, embora isto não apareça nos créditos.
Posted by: Helder | 28-05-2007 at 20:27
ora pois, animal farm eh divertido. se não eh. pode ser lido numa sentada só. a ilha com scarlett 'delicia' johansson me fez ter xiliques ao ver cada cena inspirada em brave new world. eu tinha acabado de terminar de ler o livro quando vi o filme pela primeira vez. foi supimpa.
jah 1984 esta na minha pilha de livros ha mais de 3 semanas. junto com o mundo de sofia que comecei tres vezes e nao terminei, ao lado do malleus, este nem lembro mais quantas vezes comecei a ler.
fahrenheit 451. me deu vontade de ler esse e acho que nunca vou atingir algumas metas do 43things.
Posted by: w1zard | 29-05-2007 at 10:15