O quê é o Passover?, por Nicolas Rouquette
Brinco muito com uma estória que circula por aí que diz que sou judia. Geralmente vem acompanhada com uma acusação de que tenho 69 anos. E se tivesse e se fosse judia? Na verdade, papo sério, minha família brasileira é católica desde a Santa Inquisição portuguesa, os casamentos foram de primos com primas, o estado de Alagoa é pequeno, a família é meio assim como "O Som e a Fúria" do Faulkner, que foi re-traduzido pelo poeta laureado, Paulo Henriques Britto: tudo meio pancada. Só não temos o Benji, o primeiro irmão da saga narrada neste livro tão obscuro que há traduções inventadas. Na Américaa Latina o que há é cristão novo;; esses Oliveiras, Pereiras, Prata, Dourado. Capelas com candelabros parecidos com a menora, as pessoas não são culturalmente judias mas o foram seus antepassados. Não entendo preconceito contra negros no Brasil e nem contra judeus. Preconceito é babaquice.
Católico, protestante ou judeu, o conhecimento da Bíblia é comum aqui na gringolândia, a influência literária da Bíblia incontesti. Um guri ficou chateadinho comigo por causa disso, quando disse pra ele que para ler William Blake a pessoa deve conhecer a Bíblia. "Tiger, Tiger", aparentemente simples, não é sobre um tigre. É sobre o mal, mesmo de uma criatura bela, criada por Deus; é má pacaramba.
Sempre tinha pensado que Passover era uma forma de Páscoa. Pra ver que eu também sou ignorante. Um dia perguntei a uma psicóloga brasileira o quê era o dia feriado para eles. Ela me disse simplesmente que os judeus tinham marcado suas portas com sangue, o anjo da morte passou essas portas e nas outras casas cingiu as portas com sua asas e todas as crianças do sexo masculino morreram.
Fiquei horrorizada.
Como celebrar a morte dos outros só porquê são idólatras e não fazem parte do povo escolhido, os monógamos?
Depois de um tempo juntei as peças do quebra-cabeças. Os judeus era escravos no Egito, queriam ir embora, vieram as pragas. Esta foi a última. Cruel. Só que o Passover não é uma celebração. É um feriado para que as pessoas se lembrem de sua fé em um só Deus, e reflitam nas várias facetas da vida.
Tem uma loja aqui perto, em Westwood, Judaica, onde há tudo que é tipo de arte religiosa. No Passover usa-se um prato grande, de uns 80 cm de diâmetro, com várias divisões. Em cada uma delas há sabores diversos que representam a variedade de circunstâncias na vida: ervas amargas, mel, e assim por diante.
Vejo que no Brasil, por haver uma homogenia cultural , mais ou menos, a ignorância e preconceito são muito grandes. Acho muito escroto. Embora os judeus de Israel, muitos deles, tenham passado de oprimidos a opressores, são gente como eu ou você. Minha avó saiu da Rússia fugida dos pogroms. Se sou judia? Culturalmente mais que antes, etnicamente 3/4 mas não existe isso de "raça judia" e de formação sou a famosa católica não praticante, com uma diferença: li a Bíblia em português e em inglês aos 16 anos e não esqueci.
Estarei escrevendo um pouquinho sobre os judeus. É para informar, mesmo. É a ignorância que forma opiniões estúpidas sobre povos.
Galleria Judaica--arte; clique por favor.
Ah, o Delta 9 na Lágrima busca votos paara melhores baixistas de todos os tempos. E eu deixei a Parte 2 de canções de amor e ódio do Dylan. Prestigiem
, por favor, pra série continuar.
Diversos são os sabores da vida, diversos somos nós. Tal como as sementes da granada, somos múltiplos e únicos; pertencemos à mesma fruta.
É por aí que as festas se baseam. Veremos.
Até+!
Sphere: Related Content
Um dos efeitos colaterais de ser brasileiro é esse passado difuso das nossas famílias. Você parece ter uma noção melhor das suar origens, mas eu até hoje não sei de que parte da África vieram meus antepassados negros, nem da procedência do meu suposto sangue judeu (aparantemente, a família de uma das minhas avós - que se chamava Esther - era de cristãos novos, mas ninguém sabe contar essa história direito). Do lado da minha mãe, tem gente que jura que somos descendentes de Mem de Sá. Vai saber? A única certeza que eu tenho é que meu avô materno vem da Itália. O resto...
Posted by: Diabo | 25-03-2007 at 07:43
Aprendi sobre a família brasileira com um primo mais velho, que tinha ido às Alagoas e conversado com um dos patriarcas nossos. Realmente, como é comum em capelas de famílias de cristãos novos, dentro da capela havia candelabros quase idênticos à menorah.
No seu caso africano, tenho a impressão de que os negros brasileiros descende de prisioneiros de guerras tribais na Nigéria, onde o yorubá é falado. Aigreja mórmon é um excelente lugar para pesquisas genealógicas, o dia em que você quiser se aprofundar na sua história.
Olha, se você é descendente do Mem de Sá é parente de umm amigo meu que também é descendente do bravo português, o qual literalmente deve ter sido foda!
Beijos e bom domingo!
Posted by: tina oiticica harris | 25-03-2007 at 08:46