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23-02-2007

Fragmentos de versos na memória, por Nicolas Rouquette


Desde que meu amigo poeta laureado me explicou o problema de rimas pobres nunca mais escrevi poesia.  Eu?  Arriscar poesia escrotóide?  Jamais.  Piorou quando comecei a prestar atenção nas rimas de outros.  Aquela música que muitos me perguntam o quê quer dizer e detesto a música e a letra, e o grupo também, ai, só Jesus!  Estou falando de "Californiacation" do Red Hot Chili Peppers.  Imaginem uma música terminando tudo em "ão"?  caralhinho, caralhão, bate cu, bate cuzão, bunda, bunda, pois é, aqui não é Virunduns mas rola rima doida também.
Talvez seja pudica.  Titica de galinha.  Implico há décadas com uma letra do  Ruy Guerra, de um dos discos do Milton Sofrimento.  "Do meu sexo pululam sementes." Quê que é isso?  Pu-lu-lam sementes?  Quê porra é essa? Só pode ser porra sólida jorrando à prestação. Que sementes?  Sementes de jaca?
Paulohenriques_1
Todo mundo dá suas mancadas.  Rimas em ada e congêneres, rimas em vogal+nto(a) todas estas são rimas pobres.  Observem umas estrofes do poeta laureado, do seu primeiro livro, que entrou no segundo, Mínima Lírica.  Por quê curto Paulo Henriques Britto?  Ele não escreve besteirol, domina o português de alto registro mas não abusa e o insere nos seus versos ao lado de palavras corriqueiras.  Suas rimas são sofisticadas, aconselho, recomendo e sugiro "Macau" seu livro vencedor do prêmio Telecom Portugal em 2003.  Barcarola, da qual reproduzi um trechinho me parece ser do tempo da poesia mimeógrafo.
Gosto por causa do nonsense, tão presente nos anos 70, às vezes parece Mutantes.

de Paulo Henriques Britto, do livro  Mínima Lírica

BARCAROLA

eu e (você) andando
, de mãos emprestadas, quase pelas ruas,
sem olhar para cima nem pros lados nem pra frente,
porém em direção ao Futuro. Ou ao Eterno. Ou ainda
                                                                            [ao Sublime.
Ou coisa que o valha, ou qualquer coisa
que não valha nada.

eu (e você)
, nós dois, na noite quase escura,
pulando pelos paralelepípedos da rua asfaltada
brincando de amarelinha sem linhas nem pedra,
saltando por cima das regras, sem ligar a mínima


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Comments

Gabriela

Não conhecia Paulo Henriques Britto. Mas pelo trecho apresentado, acho que vale a pena procurar os livros :) O estilo dele parece ser bem interessante. Valeu pela dica :)

Daniela Mann

Ele escreve que é uma maravilha! Realmente rimar com qualidade é muito difícil. É preciso ser poeta, caso contrário fica a parecer a letra de uma música de bailarico.

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