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10-02-2007

A tiazona e o tiozão, por Nicolas Rouquette


Passei um mês com os Adventistas do Sétimo Dia no final de 2004. Minha saúde estava tão mal meu filho convenceu-me a ir me tratar. O lugar era lindo, maravilhoso; infelizmente fechou por déficit. Rodeado por montanhas e um restinho da mata Atlântica, em Nova Friburgo, era o Paraíso. E numa boa, a dieta natureba deles era muito gostosa.

Um dia chega um novo cliente. Olha fixo para mim:

--Você não trabalhou no IBEU da Rua México? Seu nome é Tina?

--Sim, sou eu. And... So...

--Fui teu aluno quando eu tinha doze anos. Estava no 61 (primeiro semestre do último ano básico) e nunca me esqueci de você. Você me fez decorar a letra de "Imagine." Até hoje sei o raio da letra.

Ficamos amigos. Lembrei-me de onde sentava-se; lá atrás à minha esquerda. Ele é tijucano até hoje, estava quase enfartando quando foi para a clínica. Deu-me uns livros antes de sair.

Dei aula no IBEU Tijuca também. Escancarei tanto de mochila e Walkman© e macacão, mais os meus Adidas azul real com listas abóbora, que meus alunos, daquela turma que pede a letra do raio do Stairway to Heaven, deram-me um par novo de Adidas©, azul real com listas prateadas.

Tudo isso é porque acordei e fiquei triste pacas, até postei sobre isso no meu blog gringo, o Anarchic Universe. Houve uma vez um aluno estelar, menino modelo, chicano, nota dez, quinze anos de idade, Eddie López. Um de seus primos foi meu aluno, era gênio mas não conseguia escrever, tinha problema de processamento motor-visual. Ele era muito quieto; descobri que era gênio. A família tornou-se especial para mim já que a estrutura do sistema nunca fez muito pelo Rafael López.

Em uma noite de primavera chegando, nove e meia da noite, em frente de uma sorveteria, Eddie López conversava com amigos. Provavelmente sobre os dois esportes que praticava na SAMOHI. Levou uns balaços. Morreu. Assassinado por engano.

Hoje li o relatório da polícia de sua busca pelos assassinos durante os quase dois anos que se passaram desde o primeiro crime, antes da morte de Eddie López. Os assassinos mataram Eddie López, um garoto que foi meu aluno, Miguel Martín, um espoleta que já era tremendo na quarta série, passaram chumbo em um homem atravessando a rua nos fundos da escola onde trabalhei, a uma quadra e meia da minha casa, a escola ficou trancada até sete da noite por segurança. Finalmente, também balearam uma mulher no parque local.

Três forças tarefas para agarrar essa galera e faltam dois. Culver City, Venice e Santa Monica P.D. Minha pergunta é se a justiça feita trará paz aos injustiçados.

O vínculo que estabelecemos, professores e alunos, é muito especial. Talvez por isso professores possam obter aposentadoria antes de 65 anos. Talvez outros naveguem no piloto automático quando educam. Talvez minha paixão pelo ensino, envolvimento emocional com a gurizada, conhecimento de seus problemas, sofrimento por eles, tenha precipitado essa síndrome maluca, a fibromialgia.

Mas por que raios decidi mandar a turma decorar a letra de "Imagine" em 1978 ?

Um arranjo de flores que custou um tombo
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Comments

Daniela Mann

Uma pessoa até fica doente com tanta violência! Tadinho do Rafael! :(
E os pais? Deve ser a dor maior que existe, perder um filho e ainda por cima de uma maneira tão cruel...

elisabete cunha

Tina: SÓ QUEM É PROFESSORA SABE A LIGAÇÃO INTENSA QUE CONSEGUIMOS MANTER COM NOSSOS ALUNOS , E CREIO QUE ALGUNS CONSEGUEM SER ESPECIAIS!
* Tenha uma ótima semana!

elisabete cunha

Esqueci: Lia o endereço certo do meu link é :
elisabetecunha.wordpress.com
*Como dica deixo um blog de um amigo médico que aborda sobre fibromialgia:
saudealternativa.wordpress.com, dê uma visitada e confira!
Ótima semana!

_Maga

É... os envolvimentos emocionais que temos na vida dão boa parte do sentido desta.

E a forma como eles se desdobram dão boa parte das felicidades e sofrimento desta...

Hoje contastes coisas belas e coisas tristes.

(pelo menos tu tens um ótimo gosto musical! hehehe)

beijos e boa semana, Tina!

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