Rima: quando levei pau na FAU, por Nicolas Rouquette
Carreira estudantil estelar, com alguns momentos de buraco negro. Duas segundas épocas em matemática no ginásio; não suportava a dona Angelina, que de anjo nada tinha. Sua voz estridente era o fim, sua incompetência de jovem professorinha era a morte. Eu ora bocejava ora matava aula no parque do Instituto de Educação.
No Santa Pústula não tive problemas acadêmicos; só problemas comportamentais. As meninas ricas me odiavam e a função era biunívoca, bitransitiva e falta um bi mas faz tempo. Outro problema comportamental mais sério foi quando fiz dezoito anos. Isso queria dizer independência. Leila Diniz deu sua famosíssima entrevista com os ^%$#@8 no Pasquim, eu aboli meus sutiãs, que não faziam diferença para meus seios minúsculos, e adotei os palavrões da mulher mais linda e liberada de 1970.
Pausa. FAU-UFRJ. Havia uma galera mais nova que eu, curtindo T.Rex, Pink Floyd, eu tinha estacionado no Jimi Hendrix. Havia uma galera da "Atlética". A "Atlética" era o pastiche do diretório acadêmico; não entendia qual era de não abrir o diretório. Era 1973, entrávamos na era da "distensão lenta e gradual porém segura." O PCB, como sempre, esperava pelos 50% +1 da massa estudantil para agir.
Não tinha paciência, ah! a juventude! entrei em duas confusões. Uma quase no semestre de me formar, com o arquiteto que construiu aquele elefante falido na entrada do Túnel Novo de Copacabana. O cara teve a petulância de mostrar um estudo sueco em que seu monstrengo de 50 andares não afetaria o trânsito. Minha equipe conhecia bem a Lauro Muller, uma rua despretenciosa atrás da rua do trânsito, onde moravam cariocas de classe média em quatro ou cinco prédios. Nossa proposta, com a qual o pretencioso professor de cabeleira pompadour concordou, era de extender o conceito de habitação para classe média e prover serviços para a comunidade. Nada de espigão, mesmo considerando que a Igreja Santa Teresinha, ao lado do túnel, fosse feia à beça.
Fizemos um projeto completo, com cálculo do concreto, elétrico, tudo como se fosse para construir. Havia três pranchetas no meu quarto de trabalho. Não vou dizer que pranchetei no projeto em si. Escrevi a memória do projeto, uma pintura de papo furado em terminologia de arquiteto e poeta. Provi a infra.
Quase levamos pau. O chefão Luiz Paulo Conde nos safou dessa. Ele sempre levou pinta de barão: um homem amplo, de barbicha, tipo ho-ho-ho mesmo.
No ano seguinte, que teria sido o último, tínhamos a disciplina de planejamento urbano e regional, com um dinossauro e uma senhorita feia, solteirona ( não haveria homem que desse jeito nela) e não muito versada na matéria. Nós, da Libelu, assinávamos o ponto e íamos agitar. Tanto o dinossauro quanto a bruxa eram de extrema direita. ( Coro grego: Ah! Juventude! Displicência...)
Nós passamos para o mestrado de planejamento urbano na COPPE-UFRJ. A professora levou pau na prova de mestrado. O PUR-COPPE era um antro naquela época. Fiz um semestre e puxei o carro. Arquitetura é um curso bom para dar verniz cultural. Trabalhar, nem no escritório do Bill na rua 125, no Harlem. Não dá pedal. Não pra mim.
Nós levamos pau na matéria na FAU. Não nos formamos. Eu perdi meu emprego de estagiária porque não dei uma de Monica Lewinski C.D.F. no trabalho tampouco.
Fui dar aulas de inglês porque sabia inglês e precisava de dinheiro. A arquitetura virou lembrança, alguns amigos ainda fazem parte da minha vida brasileira, há lembranças engraçada, conto outro dia.
Foi dando aula que encontrei minha praia. A recordação de sala de aula mais sacal é pedidos da letra do "Stairway to Heaven" do Led Zep e o quê quer dizer. Acho que não quer dizer nada demais, cada um ache sua interpretação, é como o "Hotel California" dos Eagles.
Ontem foi um dia dedicado aos resfriados que nos assolam, James Brown, tenho um post no Anarchic Universe, visitar Mommy, que estava atacada, e eu a curtir várias vezes durante o dia o Pensar Enlouquece, do Alexandre Inagaki. O post é bom pacaramba, cheio de música, e lá no blog está um presente de Natal de responsa para mim.
Logo mais tenho que arrumar de ir ao médico ortopedista. Não dá pra continuar assim. Continuem celebrando as festas aí no Brasil, aqui tá um frio de rachar.
Se é cafona, tá, sou cafona.Sou kitsch. Sou camp. Udigrudi. Curto muito essa arte rococó de que gostam os americanos. Um povo que inventou o jazz e a democracia não pode ser tão mau assim -- Luiz Gustavo de Sá do Manual dos Inertes nos comentários.
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Saudações
Fiz o último post deste ano, agora só volto ano que vem.
Vim te desejar um ano novo próspero, repleto de realizações, paz e felicidade!
Viva a vida, esta bela vida!
Viva 2007!
Abraços
Posted by: Defensor | 26-12-2006 at 10:50
Ah, mas o rococó tem bem o seu lugar. E o kitsch também... Aliás, tudo vale a pena se a alma não é pequena. Certo?
Posted by: Cláudio Vianna | 26-12-2006 at 20:52
Bacana seu blog! Mas...Os EUA inventaram a democracia? Well, sorry, mas não peguei a piada.
Abs
Posted by: Carrie, a Estranha | 27-12-2006 at 12:52