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21-12-2006

Por um 2007 melhor, por Nicolas Rouquette


O post aí em baixo e outros de ficção trariam mais satisfação intelectual talvez para vocês, leitores. Tenho que abordar um assunto que me incomoda ao ponto em que sinto a compulsão de expô-lo aqui no Universo Anárquico. Trata-se da minha nacionalidade, um tabu, um stigma ainda mais intenso que a desordem bipolar.

Minha mãe é Leite e Oiticica, meu pai era filho de imigrantes via Ellis Island, minha avó russa, meu avô grego. Fui criada monolíngüe, em inglês, até os cinco anos. Até na internacional NYC há bandeiras dos EUA por todos os lados. A árvore de Natal mais bonita é a do Rockefeller Center. Em suma, cheguei no Brasil em 1957 americana.

A perseguição de coleguinhas e professoras não me ajudou. A integração foi difícil. Aprendi português na volada porque já o tinha; conhecimento receptivo, de ouvir minha mãe falando com seus irmãos que passaram tempo conosco em NYC. E a família tem aptidão para línguas.

Na formatura da quinta série o primeiro lugar deveria estar no pelotão ao lado da bandeira do Brasil. Eu tive 592 pontos de 600 possíveis. Por coincidência, outra aluna também teve os 592 pontos. A mãe desta aluna vivia na escola, seu uniforme era impecável, seu cabelo com aquele coque cheio de bombril, fita... A professora justificou que eu era americana e não podia me perfilar em frente da escola. Formei com todos os demais.

Não sei se durante minha vida no Brasil eu era esquisita por ser esquisita, ou por ser bicultural, o que sei é que quem mora no Brasil tem dificuldade de entender como nós, os cidadãos que não votamos no Reagan, nem no HW Bush, nem no W nos sentimos, como repercutem as notícias aqui dentro sobre a situação doméstica e a internacional.

Quando aconteceu o atentado na cidade onde nasci e curti a "árvore de Natal mais linda do mundo" entrei em estado de choque por overdose de notícias, um hábito que consegui cortar. Ler sobre dedos anulares com alianças, imersos na fuligem, gravações de vozes de bombeiros, imagens de pessoas se jogando das torres. Foi muito barra pesada.

Tão triste quanto a tragédia foi a enxurrada de mail vinda dos meus amigos politicamente corretos. A numerologia que provava a capacidade bélica dos EUA, o número de mortos aqui e acolá, e sempre o povo americano sendo responsabilizado por tudo isso.

Essa foi a minha grande fossa em 2001. Não foi revolta contra os terroristas, decepção pela queda das torres tão poderosas do país mais poderoso do mundo. Foi o ataque frontal a mim, amiga de todas essas pessoas, eu, que comprei tantos discos importados no mercado americano, chiclete Wrigley's e calças Lee® para todos.

Quando vivi no Brasil lutei pelo que acreditei ser justo: a fundação de um partido dos trabalhadores. Jamais abri minha boca para tripudiar a sina do "gigante adormecido." Com outros companheiros, arrisquei minha segurança, meu relacionamento de quase dez anos acabou por exageros políticos. Regressei ao meu país com bolsa para mestrado em lingüística, estou aqui há 21 anos.

Por essas e outras, por viver em permanente estado deprimido, vigiando onde estou na bocarra do dragão, vendo passar oportunidades ímpares para mudança de direção do governo daqui e conseqüentemente dos destinos do mundo, fazendo o que posso aqui, que é pouco, fico muito injuriada quando leio blogs por aí e comentários pulando no pescoço do povo americano.

Imperialista é a China Popular, galera. Nós devemos quatro trilhões de dólares. Nosso seguro saúde tá indo pras picas. Férias? Cinco dias. Vamos ter que reconstruir um país que a administração atual destruiu. Nós, o povo americano, ora quem mais vai fazê-lo.

Ofereci aqui neste blog a possibilidade de formar um grupo para lutar contra as tarifas dos objetos eletrônicos de maneira que iPods possam ser acessíveis e brasileiros não precisem de computadores Frankenstein.

Pois é. Thanks, but no thanks, podem crer que aqui na Gringolândia estamos cientes dos nossos problemas e mais cientes dos problemas mundiais que antes, na época da Redentora, por exemplo. Nós vamos à luta, podem crer.

Só que os problemas do Brasil têm que ser atacados pelos brasileiros cientes da necessidade de soluções: disparidade de renda, fome, seca na Amazônia, queimadas, preços dos objetos eletrônicos, geração de empregos... E se o partido dos trabalhadores já deu o que tinha que dar, há que criar outro partido.

É muito trabalho sim, nos dois países. Lembrem-se de que a revolução é internacional e permanente. Este achado do Lev Davidovich é massa.

À luta, ratazanas! Brasileiros atacam seus problemas enquanto nós atacamos os nossos. Que tal? Sem recriminações.

Para não dizer que não há humor aqui, graças ao Blue Bus temos um Papai Noel visitando uma Sex Shop, êpa!

Dsc00020



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Comments

Luiz Gustavo de Sá

Oi Tina

Não compartilho a antipatia cega contra o povo norte-americano. O que criou o estigma talvez foram as administrações equivocadas e referendadas pelos setores conservadores da população, que ao que parece, têm sido , digamos, mais atuantes. Aí está o ponto. Mas como renegar um povo que apresentou o jazz ao mundo e que criou as bases da democracia moderna? (só para citar de bate pronto dois exemplos, pois hj estou compreguiça de escrever)
beijos e Feliz Natal

wicky

bom dia tina

por um mundo melhor, um 2007 melhor
em que o sol nasça para todos !!!

Beijos

greentea

não te tenho visto por estas bandas, mas venho desejar-te um melhor ano de 2007
com tudo de bom para todos.

carlos dellarua

Li algo sobre iPod? estou certo disso?
quero um iPod tbm!

Paulo

Ah se todos (ou pelo menos aqueles que tem iniciativa) cidadãos, brasileiros ou americanos pensassem assim...

hazzamanazz

Feliz Ano Novo então! :D

Olha Tina, se isso servir de consolo, quando os EUA sofreram os atentados de 11 de setembro, eu dizia que fosse a razão que fosse (pelo imperialismo, pela influência exercída em certos países, por qualquer desculpa esfarrapada - como as anteriores - que as as pessoas apresentavam), aquilo não era justificado. Assim como não é possível culpar uma população inteira pelo seu presidente (afinal, quase 50% dela votou no Kerry).

Bem, posso dizer a você que faltou pouco para eu ser linchado em praça pública... LOL

E é isso mesmo: cada país tem de procurar sua solução.

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