O Bebê de Desirée -Parte Dois, por Nicolas Rouquette
Nasceu o bebê de Desirée, um bebezinho perfeito. A mãe de criação de Desirée foi visitar. Desirée não cabia em si de felicidade. Mostrava a perfeição das unhas do bebê, suas feições tão definidas, trazia-o ao peito com visível satisfação.
A mãe de criação pediu o bebê por uns instantes. Levou-o para perto da janela. Ela como que mordeu os lábios mas nada disse. Beijou sua filha, pediu que mantivesse contato e foi embora não sem antes ouvir um relato da felicidade de Armand depois do nascimento do seu filho, que agora Armand poupava os escravos, estava feliz e leve.
Desirée não sabia precisar quando foi que um sentimento de angústia, uma sensação do espaço fechando ao redor dela, uma tempestade iminente a chegar, não sabia. Não sabia tampouco por quê. As visitas de vizinhas se intensificaram. As escravas não a olhavam diretamente. Pior, Armand estava ríspido, de poucas palavras, mal olhava o bebê, mal olhava para ela.
Seu bebê já tinha três meses. Um dia, estava a brincar com o bebê um moleque escravo, um-quarto negro, claro de pele mas negro segundo o critério de "uma gota." Desirée estava distraída; logo se fixou nas duas crianças, no moleque e em seu bebê. Não saiu um grito sufocado. Olhou para a mucama, Claire, também mulata clara. Os olhos de Desirée iam de um para o outro para o outro, queria gritar, sua voz não saía. Com dificuldade, levantou-se tal um bêbado, arrastou-se para o escritório de Armand.
Ela a recebeu de costas. Ela tentava arrancar sua voz de dentro de si. Finalmente falou, com uma voz rouca, que não era a sua, mas falou:
-- Armand, é o nosso filho, não é? Existe algo errado com ele...
--Ele é negro e você é negra. Você trouxe a desgraça para dentro da minha casa, minha família tradicional de séculos de Louisianna. -- Seu cenho estava mais sisudo, sua aparência mais fechada, parecia mais moreno que de costume.
--Eu, Armand? Olhe para os meus cabelos! São castanho claros. Meus olhos são azulados. Veja, sou mais branca que você!
--Você é órfã, o bebê é negro, você é negra.
--Você quer que me vá? É isso? --Mal continha seu choro Desirée.
Armand virou as costas, Desirée voltou ao seu quarto e bebê desesperada. Agora compreendia todas aquelas visitas, os sussuros das escravas. Desirée recebeu um recado de sua mãe adotiva:
"Volte para o seu lar com o seu bebê. Você é benvinda aqui, Desirée. Nós te amamos."
( continua hoje de tarde, horário menos seis procês )
Sphere: Related Content
Essa coisa do racismo americano é impressionante, com essa questão do mestiço ser negro. Não sei se o racismo brasileiro não é pior, onde o mestiço é branco e inventaram até o "pardo" (onde ele nasce, na pardolândia?). É como dizer que o cachorro branco é melhor que o preto, ou vice-versa. O próprio termo racismo é contraditório, já que somos todos da raça humana, que é uma só.
Posted by: j. noronha | 20-11-2006 at 10:34
Eu ouvi essa coisa do "racismo NORTE americano" pela 1ª vez quando era moleque - uns 12 anos. Sempre que lembro disso, lembro também de uma mulher bonita, branca, de olhos azuis, cabelos ondulados e castanhos claros descendo de um ônibus. Será por que é difícil ver uma mulher dessas descendo de um ônibus? Tudo bem, aqui no Brasil, não... Mas se uma mulher com essas características precisa pegar ônibus, é por que é pobre, e pobre no Brasil é 80% negro. Logo, por mais que ela seja branca, ela continua sendo negra. Aqui no Brasil, não: ela é branca. Mas nos EUA, é negra. Mas se essa mulher estivesse nos EUA não pegaria ônibus por que antes de ir pra lá conheceu um turista ricaço que conquistou ela fácil quando pagou a caipirinha com doletas.
Não sei o que eu quis dizer com isso tudo, mas disse.
Ah! Estou longe de ser celebridade. Mas muito longe mesmo... Agora traduz pra mim "You're fired" por que eu sou péssimo em ingreis. Já que também estou longe de desbancar o Ronald - inho - Fenômeno da Publicidade, né?
Posted by: Romullo Pontes | 20-11-2006 at 16:00