Tem certeza de que é câncer, doutor?, por Nicolas Rouquette
Foi fazer a mamografia, aquele amasso indesejável, dolorido e frio. Lembrou-se de que era dia do aniversário do falecido, 5 de janeiro. Na lata, o médico radiologista lhe disse que devia estar com câncer. Mostrou a chapa. Apontou para o seio esquerdo, para uns pontnhos do tamanho de cabecinhas de alfinetes:
--É, quando aparecem esses pontinhos no quadrante do seio imediatamente adjacente à axila, o quadrante superior, imagine um relógio, o quadrante das três horas da tarde, seio esquerdo é batata. Vá ver seu médico o quanto antes.
Os pontinhos eram calcificações. A primeira retirada parcial foi em fevereiro, dia 14. Que mania de guardar dias e datas, São Valentim. Voltoou o resultado, era carcinoma no ducto, in situ. Ou seja, como lhe explicou a médica, o câncer não viajou, ficou dentro do ducto. Pediu para que repetisse os exames em maio.
Segunda retirada parcial. Mesmo diagnóstico. Vamos fazer um exame de novo em maio?
Terceira retirada parcial. Quarta em outubro. O material é enviado para um hospital mais gabaritado, desses hospitaiis cheios de cientistas vendo lâminas que um dia fizeram parte de mamas, que deram leite ou amor, prazer, paixão.
Depois da quarta retirada parcial resolveu ir para o que convenciou chamar de tchop-tchop. Dos dois seios. Duas tias morreram de câncer de seio. Sua prima havia tido câncer de seio, câncer de seio sua bisavó. Cortar os dois.
A escolha do cirurgião foi uma parada. Um garantiu fazer transposição de tecido para refazer os seios sem problemas. O processo parecia complicado. O cirurgião não lidava com seguros. Vire-se. Ele é médico. Foi ao outro cirurgião, uma seda, originais de pintores modernos na saleta de espera, flores, água Perrier gelada, copo de cristal. Este lhe disse que fazer a transposição de gordura para refazer os seios não faria. Não daria pé. Seus problemas respiratórios, sua pressão. Faria implantes.
A secretária trouxe os implantes em salva de prata. Implantes em forma de gota, com a parte de cima achatadinha, implantes redondos, implantes pequenos ou grandes. Escolheu o maior dos redondos. Sempre quis ter seios grandes. Ia passar para um tamanho 44.
Fez sua cirurgia dia 14 de janeiro do ano seguinte. Um tumor invisível estava no seio direito. Grandinho, um centímetro, também carcinoma no ducto in situ. O cirurgião plástíco colocou as bolsinhas para passar a expandir seu tórax. Uma ou dua vezes por semana ia lá no escritório de madames para receber água salina nos expansores. Marcou sua cirurgia para receber seus implantes para o dia 11 de setembro. Não queria ouvir falar da desgraceira ocorrida em NYC.
Dormiu, acordou sem dor alguma. A anestesista lhe tinha aplicado morfina. Bela viagem. Em março do ano seguinte fez os biquinhos e pigmentação dos mamilos e biquinhos. Seus seios ficaram prontos.
Diariamente faz ginástica dos seios, trinta amassos em cada um para fazer circular o silicone. Não precisou fazer radioterapia ou quimioterapia. Teve sorte na decisão radical de tchop-tchop dos dois, qual, o direito com câncer invisível.
É, seios de mentirinha, enganam escoteiros, solteirões, e se não precisar de enganar? São bonitos, um pouco pesados para quem usava sutiã 40/42. Descobriu seu câncer aos 39 anos porque em famílias geneticamente predispostas deve-se fazer a mamografia a partir dos 35 anos, não dos 40. E fez suas mamografias.
Teve sorte e tem sorte. Descolou um cientista de quem gostou e que gostou dela, peito falso ou perna de pau, quereria bem a ela do mesmo jeito. Estão felizes, ela acende uma vela para o falecido, todos os 5 de janeiro, todos os anos.
Outubro: Lembre-se da possibilidade de cura do câncer de mama. Dôe para o grupo de pequisa de sua preferência.
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Saudações Tina!
Terrível doença que ceifa milhares de vida. Em minha família duas tias se foram por causa dele.
Abraços
Posted by: Defensor | 22-10-2006 at 07:29
Tenho pavor só de pensar! Quando faço auto-exame acho sempre que encontrei alguma coisa. Vou ao médico com o coração aos pulos e quando chego lá nunca é nada!!! he he he he he
Creio que o cancêr de mama é a única doença que me assusta! No momento, só de ler o post, até parece que sinto uma dor meio formigueiro... a sugestão do costume! Mas mais vale prevenir que remediar!
Beijinhos
Posted by: Daniela Mann | 22-10-2006 at 11:46
Cada vez que leio sobre câncer, gives me the creeps, preciso parar de fumar, urgente! Uma tia teve mais sorte, não precisou remover tudo. Ô doença triste.
Posted by: j. noronha | 22-10-2006 at 23:50
Só de pensar que um dia isso pode acontecer comigo, me dá um nervoso...
Posted by: Lady Metal | 23-10-2006 at 08:56