Contos de Idade Média 3 --It's Alright in High Society, por Nicolas Rouquette
Conto número 3
Carolina Cecília da Graça Coelho deixou que seu "maridão" seguisse para a festa dele antes dela ir para a sua. Seu vestido era fininho, de uma seda quase lilás, sua calcinha de papel, um truque que uma roqueira lhe tinha ensinado. A calcinha extra estava na bolsa de prata, herança da bisavó, feita de malhas minúsculas do precioso metal. Sua maquiagem era mínima, pra evitar que se lambuzasse de cosméticos.
Estava pronta para a putaria, num prédio ao lado do Hotel Meliá. Tocou na porta, pediram-lhe o nome completo, entrou. No ar, uma fragância que só podia ser Paris do Yves Saint-Laurent.
Minúsculas velas boiavam em pratos cheios de água colorida, pratos de cristal, discretamente colocados entre as mesas do salão. Até aí ela gostou. Toque feminino na decoração.
Os quitutes eram todos uma só maravilha: queijo brie com maçã no forno, pedacinhos só pra inglês ver, que todas as senhoras deviam estar de dieta mesmo. Abacaxi com presunto fatiado, quase tudo doce e sal, que beleza!
E a música, que música! Simone, Bonnie Rait, Fagner, "Ai Coração Alaaaaaado, Desfolhareeeei"
Um susto! Ao mesmo tempo em que rolava "Let's Dance" seu olhar ficou hipnotizado por alguém que só podia ser ele -- David Bowie. De terno folgado branco, chapéu, dançando sozinho, até os olhos um da cor diferente do outro, mas não era possível. Em Maceió? E ele olhava pra ela também e sorria um sorriso Colgate, dentes perfeitos, Carolina Cecília sentiu as pernas bambas, como se fosse desmaiar.
Antes que fizesse um papelão e se estatelasse no meio do pessoal dançando, ela sentiu David Bowie sustentá-la em seus braços, murmurando -- Agora temos que dançar, minha boneca de porcelana...
Dançaram como se as musas gregas os guiassem. Ele não era o David Bowie, era um industrial de águas minerais; chamava-se Francisco Leite. Apertava-a sem que ela ficasse tolhida. Subitamente meteu uma das mão debaixo do seu vestido. Ela, trêmula de antecipação, consentiu. Ele rasgou sua calcinha. Ela arfava que parecia uma locomotiva saindo da estação.
Francisco, cuja mão estava mais melada que quando se limpa jaca mole, trabalhava na Carolina Cecília com afinco. Depois de uivar umas cinco ou seis vêzes, ela pediu arrego. Já tinha recebido mordidinhas, lambidas, beijos mais possantes que limpeza dental ou desentupidor de pia, tudo com classe. Ela queria levá-lo pra sua casa despeito ele não deixar que ela tocasse nas suas partes íntimas, ou que fizesse carícias nos seus cabelos. Disse que tinha uma síndrome de dor. Que pena.
E nesta festa esplendorosa, Carolina Cecília lixou-se para as iguarias, a decoração, o Paris do Yves Saint Laurent. Francisco havia exumado a mulher que ela havia sido e era outra vez. Não havia nada entre ela e seu marido há anos, exceto os negócios em comum.
Chegaram Francisco e Carolina Cecília à casa de Carolina Cecília. Ventava muito, era noite, à beira da praia, num pontal, num gesto distraído...
Francisco tentou ajeitar seu chapéu em vão. Levou o chapéu o vento. Carolina Cecília viu uma basta cabeleira loura a voar romanticamente. "Francisco" se grilou. Tudo acabado? Uma mulher tão fogosa?
Carolina Cecília pensou, tudo isso numa fração de segundo. Seu marido era do gênero: trepou, virou, roncou. Francisco lhe dera um prazer que há anos não sentia. Perguntou a Francisco:
-- Quer ficar comigo até que nossa relação dure?
--Você... Me quer, sabendo que sou mulher? estava boquiaberto "Francisco"
-- Claro! A gente diz que você é uma das minhas primas de Penedo e acabou.
Nisto toca o celular e é o Eduardo. Carolina Cecília, numa voz determinada e seca, diz lhe que vai entregar pelo menos suas roupas amanhã. Repete pra ele sua função, que ele era marido
que :trepou, virou, roncou. E lhe disse --Basta! --antes de bater o telefone de vez.
Eduardo reflete, pois é, castigo, a vida é assim, e nisso, do fundo da auto-flagelação, vislumbra seu salvador: Heleneza! Liga pra casa dela, faz de conta que não está numa trampa de fazer gosto, se convida pra casa da Heleneuza, que lhe responde:
--Ah, safadinho, Eduardo, você quer mais, hein ? Mas meu bem, desta vez vai sobrar pra mim também, okay, xuxu ? Pode vir agora...
Eduardo respira fundo, pensa bastante e se lembra que araruta tem seu dia de mingau. E ninguém vai saber mesmo... E quem sabe se é bom mesmo ?
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