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30-09-2006

Contos de Idade Média 3 --It's Alright in High Society, por Nicolas Rouquette


Azaleas

Conto número 3

Carolina Cecília da Graça Coelho deixou que seu "maridão" seguisse para a festa dele antes dela ir para a sua. Seu vestido era fininho, de uma seda quase lilás, sua calcinha de papel, um truque que uma roqueira lhe tinha ensinado. A calcinha extra estava na bolsa de prata, herança da bisavó, feita de malhas minúsculas do precioso metal. Sua maquiagem era mínima, pra evitar que se lambuzasse de cosméticos.

Estava pronta para a putaria, num prédio ao lado do Hotel Meliá. Tocou na porta, pediram-lhe o nome completo, entrou. No ar, uma fragância que só podia ser Paris do Yves Saint-Laurent.

Minúsculas velas boiavam em pratos cheios de água colorida, pratos de cristal, discretamente colocados entre as mesas do salão. Até aí ela gostou. Toque feminino na decoração.

Os quitutes eram todos uma só maravilha: queijo brie com maçã no forno, pedacinhos só pra inglês ver, que todas as senhoras deviam estar de dieta mesmo. Abacaxi com presunto fatiado, quase tudo doce e sal, que beleza!

E a música, que música! Simone, Bonnie Rait, Fagner, "Ai Coração Alaaaaaado, Desfolhareeeei"

Um susto! Ao mesmo tempo em que rolava "Let's Dance" seu olhar ficou hipnotizado por alguém que só podia ser ele -- David Bowie. De terno folgado branco, chapéu, dançando sozinho, até os olhos um da cor diferente do outro, mas não era possível. Em Maceió? E ele olhava pra ela também e sorria um sorriso Colgate, dentes perfeitos, Carolina Cecília sentiu as pernas bambas, como se fosse desmaiar.

Antes que fizesse um papelão e se estatelasse no meio do pessoal dançando, ela sentiu David Bowie sustentá-la em seus braços, murmurando -- Agora temos que dançar, minha boneca de porcelana...

Dançaram como se as musas gregas os guiassem. Ele não era o David Bowie, era um industrial de águas minerais; chamava-se Francisco Leite. Apertava-a sem que ela ficasse tolhida. Subitamente meteu uma das mão debaixo do seu vestido. Ela, trêmula de antecipação, consentiu. Ele rasgou sua calcinha. Ela arfava que parecia uma locomotiva saindo da estação.

Francisco, cuja mão estava mais melada que quando se limpa jaca mole, trabalhava na Carolina Cecília com afinco. Depois de uivar umas cinco ou seis vêzes, ela pediu arrego. Já tinha recebido mordidinhas, lambidas, beijos mais possantes que limpeza dental ou desentupidor de pia, tudo com classe. Ela queria levá-lo pra sua casa despeito ele não deixar que ela tocasse nas suas partes íntimas, ou que fizesse carícias nos seus cabelos. Disse que tinha uma síndrome de dor. Que pena.

E nesta festa esplendorosa, Carolina Cecília lixou-se para as iguarias, a decoração, o Paris do Yves Saint Laurent. Francisco havia exumado a mulher que ela havia sido e era outra vez. Não havia nada entre ela e seu marido há anos, exceto os negócios em comum.

Chegaram Francisco e Carolina Cecília à casa de Carolina Cecília. Ventava muito, era noite, à beira da praia, num pontal, num gesto distraído...

Francisco tentou ajeitar seu chapéu em vão. Levou o chapéu o vento. Carolina Cecília viu uma basta cabeleira loura a voar romanticamente. "Francisco" se grilou. Tudo acabado? Uma mulher tão fogosa?

Carolina Cecília pensou, tudo isso numa fração de segundo. Seu marido era do gênero: trepou, virou, roncou. Francisco lhe dera um prazer que há anos não sentia. Perguntou a Francisco:

-- Quer ficar comigo até que nossa relação dure?

--Você... Me quer, sabendo que sou mulher? estava boquiaberto "Francisco"

-- Claro! A gente diz que você é uma das minhas primas de Penedo e acabou.

Nisto toca o celular e é o Eduardo. Carolina Cecília, numa voz determinada e seca, diz lhe que vai entregar pelo menos suas roupas amanhã. Repete pra ele sua função, que ele era marido
que :trepou, virou, roncou. E lhe disse --Basta! --antes de bater o telefone de vez.

Eduardo reflete, pois é, castigo, a vida é assim, e nisso, do fundo da auto-flagelação, vislumbra seu salvador: Heleneza! Liga pra casa dela, faz de conta que não está numa trampa de fazer gosto, se convida pra casa da Heleneuza, que lhe responde:

--Ah, safadinho, Eduardo, você quer mais, hein ? Mas meu bem, desta vez vai sobrar pra mim também, okay, xuxu ? Pode vir agora...

Eduardo respira fundo, pensa bastante e se lembra que araruta tem seu dia de mingau. E ninguém vai saber mesmo... E quem sabe se é bom mesmo ?


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Comments

Defensor

he he! gostei... e os nomes são o maior barato!
E obrigado pelo apoio.
Abraços

Daniela Mann

Está hilariante! A Tina tem uma capacidade unica de descrever os ambientes e sobretudo os estados de espírito, é fascinante!
Beijinhos

Daniela Mann

Voltei para lhe oferecer esta flor!

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Sergio

Olá, Tina!

Sensaional!!..hum! ao lado do Meliá?...à direita ou à esquerda?..rsrsrsrs...muito bom...a dele me lembrou ´´Rio Babilonia```, quando o Jece Valadão procura um traveco na Lapa.

Um beijo

tina harris

Ora, Sergio, o Meliá fica na esquina da rua que dá no supermercado. Logo, o prédio ao lado só pode ser um. Do outro lado é posto de gasolina e atrás do posto tem um prédio de classe mérdia e um cybercafé. Ah, não há sentimento melhor que não ser pego com as calças arriadas, tipo o Solano López foi. :P

Lívia

Sobre o seu comentário no meu blog, Tina...sou anarquista, e não anarco-marxista.
Tenho verdadeiro horror a pessoas vidradas em Marx. Elas acabam se tornando fanáticas.
Acho que você não está totalmente por dentro das falcatruas do PT: mensalão, sanguessuga, dossiê, ONG...tá uma lambança só. E isso por parte daqueles que eram os grandes petistas, como José Genoíno.
PT? Nunca mais! Assim como pra mim nenhum deles presta e nunca fará nada pra melhorar este caos.
Desculpe o testamento que escrevi aqui, mas acho que tinha que deixar clara minha opinião...
Hoje fui votar de luto. E anulei todos os meus votos...como uma boa anarquista.

Eudes

Li os três contos, e cada um melhor que o outro. O do extreme makeover foi muito bom, acho que gostei mais. Não lembro de te-los lidos no UA antigo, deve ter sido A.R.A (Antes do Rapadura Açucarada... :) pretensioso eu). Logo te escrevo. Vou almoçar. Um beijo canelone. Ah, justifiquei meu voto.

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