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30-09-2006

Contos de Idade Média 1 It's All Right in High Society, por Nicolas Rouquette


Antes dos contos, retirados a dedo, no bom sentido, do meu antigo UA do blogspot.com sinto que devo comunicar que não sei quando voltarei com post novo. Há alguns anos comecei a ter um problema na mão esquerda. Há uns três dias passei a ter dormência nos dedos da mão direita. Segunda é feriado, Yom Kippur, estão perdoados todos vocês e eu também, assim espero. Talvez na terça consiga ver um médico. Vai ser uma segunda opinão, tipo: --Ah, e a senhora é feia. Não, de verdade, o primeiro neurologista me encheu de remédio e quase morri, sério, foi miastenia induzida. Queria ser como o moskito, do ¿de qualquer jeito? e sumir sem explicação. Vou tentar ir lendo os meus blogs amigos aos pouquinhos, com comentário de carinha feliz. Sem mais, aí vão três posts separados, dois sobre ele e ela do mesmo casal. E viva o Botafogo.

Bouquet


Conto Número 1

Antonio Carlos Rodrigues Leão chegou de mau humor em casa. Reunião o dia inteiro com os gerentes estrangeiros exigindo mais cortes orçamentários, almoço de piadinhas bobas sem cerveja pra não dar bandeira enquanto eles se afogavam nas ca-ee-py-rinyas, um dia do cão.

E hoje terminava sua liberdade pois chegava sua mulher de uma ausência longa num spa, nem se lembrava se era em Camboriú ou Nova Iguaçu. O bom senso lhe dizia Camboriú. Não que tivesse caído na gandaia na sua ausência; seu alto posto gerencial não se lho permitia.

Olhou para seu copo de uísque, já aguado do gelo derretido. Tomava outro? Não, melhor enfrentar a Teresa Isabel um pouco sóbrio. Mais um uísque, então, e danem-se os médicos e seus conselhos que só tornam a vida mais chata. Já estava vestido e perfumado, pronto para seja qual fosse a festa da noite.

Suas flores, enviadas pela secretária, que sabia imitar perfeitamente sua letra, repousavam num belo vaso de cristal. Ele tinha sua suíte e ela a dela, desde que ele começou a roncar insuportavelmente. Estava sentado no foyer entre as duas suítes.

Nisto sai da suíte da sua mulher, da Teresa Isabel, um belo exemplar do sexo feminino, daqueles que se traça com vários talheres e aos poucos, pra durar.

Quedou-se por uns minutos boquiaberto, indeciso entre fazer soar o alarme ou agarrar aquele mulherão ali mesmo. A voz daquele avião o despertou:

-- Então Antonio Carlos, gostou da surpresa?

Era a voz da Teresa Isabel. Ou o uísque ou a surpresa, ficou um pouco desmaia-que-não-desmaia, mas desmaiar é coisa de mulher.

-- É você ? O quê aconteceu? Quero dizer, cadê você mesma? Perguntou Antonio Carlos à mulher esticada das antigas celulites ao cabelo, tratado com escova progressiva.

-- Não te disse que o spa era miraculoso, bobinho? Gostou do resultado, meu amor? A voz de Teresa Isabel tomava um tom da voz da Lauren Bacall.

-- Sim, mas você era morena e branquela... ( Não quis acrescentar pelancuda e feiosa, afinal já tinham passado das Bodas de Prata incólumes)

__ Ah, meu tratamento foi um chuá. Esticaram tudo, injetaram silicone nos meus lábios, olha, parecem os da Angelina Jolie, bolsas dos olhos, rugas, tudo fora. Até reconstrução vaginal eu fiz. Sou a tua nova mulher. Vem meu amor, vem Antonio Carlos, disse Teresa Isabel na voz cada vez mais sedutora, enquanto seu roupão de seda negra ia deslizando dos seus ombros abaixo.

Antonio Carlos não podia crer em sua sorte. Por via das dúvidas encheu seu copo de uísque pela terceira vez e foi-se encaminhando para o quarto da mulher, o qual fazia tempo que não visitava. Não era que não pudesse; mas casamento depois de décadas fica chatinho mesmo.

Teresa Isabel se despiu e se espalhou na cama de casal, coberta com peles falsas, politicamente corretas, de onças e tigres, da coleção do Ralph Lauren. Antonio Carlos coçava a barba imaginária, que havia tirado desde os anos sessenta.

Aquele mulherão, só dele, e que mulherão! Tirou a gravata, foi tirando a roupa, mudo, enquanto Teresa Isabel, como sempre tagarelava. ( Podiam tê-la emudecido de vale-brinde, pensou cá com seus botões.)

-- Vem meu amor, sou toda sua, gosta do seu presente?
-- Umm, claro, Teresa Isabel, é que está calor, deu quarenta graus hoje, venho sim.

Roçou aquele corpo escultural. Mas aquela não era a sua mulher. Nunca havia traído sua mulher. Por mais bonita e sedutora, ele não conseguia, não conseguia...

--Ah, coração, no spa me avisaram do efeito colateral dessa transformação numa possível reação do meu parceiro. Estou vendo que você, que nunca foi disso, está com dificuldade. Não tem problema, amor meu. Trouxe umas pílulas pra você. Em vinte minutos você se sentirá como um leão e eu sou sua presa. Toma aqui com um copo de Evian.

Antonio Carlos tomou aquela pílula azul, com a Evian, pensou e entornou, por via das dúvidas, ainda, seu quarto uísque.


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Comments

Sergio

Olá, Tina!

Ah, coitchado!...melhor era fingir de bebado.

Um beijo e bom fim de semana

Melhoras!!

Bom voto!

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